quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Feriado

Hoje é feriado e eu, como a maioria das mulheres, acordei cedo (não estou contabilizando as duas vezes que acordei de madrugada para amamentar). Lavei louça, preparei umas coisas no computador pro aniversário da milha filha, fiz comida – duas: uma para a bebê e outra pra nós. Lavei louça de novo depois do almoço, claro. Lavei roupa, porque roupa de bebê suja de comidinha não dá pra esperar até a volta da empregada. Com amor e carinho sinceros, brinquei com minha filha, dei atenção a ela. Dei banho, troquei fraldas: xixi, cocô, xixi, xixi de novo... Dei comida fazendo muita brincadeira, pra ver se ela comia melhor. Deixei coisas preparadas para o almoço do dia seguinte, fiz a lista para o marido ir ao mercado, brinquei mais com a filha, arrumei-a para sair conosco à noite, a convite da amiguinha dela. Depois colocar pra dormir (mais fralda, pijaminha, amamentar, cantar, colocar no berço, cobrir). Ufa!

Nenhuma mulher consegue ter um dia de feriado ficando em casa. Especialmente as casadas, com filhos. Se você mora sozinha, ainda pode adiar umas tarefas, tirar o dia. Mas vai acabar fazendo algum trabalho doméstico em algum momento, não tem jeito. Mas se você tem marido e filhos, dançou. Não dá para adiar: eles têm fome, sede, fazem sujeira. E é difícil precisar qual dos dois – marido ou filho – precisa mais de você.

Mas vocês devem estar pensando “lá vem um texto feminista, pra defender os direitos iguais das mulheres”. Direitos iguais eu acho mesmo que devemos ter, mas não é bem isso o que eu estava pensando. Sim, porque eu estava lavando louça e refletindo (lavar louça serve pra alguma coisa além de mantê-la limpa): porque a gente reclama tanto? Não que eu vá defender a mulher estilo “Amélia”, que fica em casa fazendo estas coisas todas, todo dia, sem reclamar ou, pior, sem ter maiores ambições. Não faria esta defesa! Mas por outro lado, me questionei se essa tal emancipação feminina não nos deixou mais infelizes, em parte. Porque toda vez que temos que fazer uma tarefa doméstica, pensamos alguns palavrões e sentimos uma ponta de inveja das amigas solteiras? Lá vou eu ressuscitar minhas avós, de novo: elas faziam tudo isso e muito mais e não me pareciam frustradas ou raivosas ao ter que cuidar da casa, do marido e do monte de filhos que tinham sozinhas. Sem empregadas e, naquela época, os maridos não ajudavam em nada mesmo, hoje eles já fazem uma coisa ou outra de vez em quando. Nem que seja quando você pedir. Naquela época a mulher não pedia ao marido para lavar uma louça e nem reclamava se ele entrasse em casa bagunçando e sujando tudo. Tampouco exigia que ele arrumasse seu próprio armário, imagine!

Acabou que as mulheres foram à luta ganhar dinheiro, passaram a dividir as responsabilidades que eram exclusividade DELES e não souberam repartir com eles as responsabilidades atribuídas a nós, “sexo frágil”. Acumulamos tudo, centralizamos tudo. Uma geração adiante, encontramos um monte de mulheres se divorciando, indo parar no analista ou se desdobrando em mil: a tal mulher de revista que é mãe, esposa, profissional, filha, etc. e que infarta mais nova – porque tem que ser boa em tudo isso – , vive estressada e por mais que mantenha um sorriso no rosto, acaba se pegando de vez em quando xingando até a milésima geração porque está com a barriga no tanque ou pia.

Eu só tenho perguntas, se tivesse as respostas, enriquecia: até que ponto ficamos mais “azedas” porque almejamos um padrão que nos distancia da nossa verdadeira essência, que é cuidar? A mulher tem vocação natural mesmo para cuidar, organizar. Não é à toa que só nós somos capazes de parir. Mas aquele padrão capa de revista fica lá martelando a gente quando temos que fazer uma simples tarefa doméstica: a bem sucedida, gostosa, rica, elegante, não nasceu para estragar as unhas lavando a louça.

Agora, para mudar, eu não tenho dúvidas de que cabe a nós, mulheres, a responsabilidade. Direitos iguais entre os gêneros só existirão quando as mães passarem a educar seus filhos homens para a vida, ou melhor, para serem bons maridos. Isto implica em ensinar a eles desde cedo a guardar seus próprios brinquedos, lavar suas próprias cuecas, ajudar nas tarefas da casa (lavar louça, inclusive) e sempre, sempre, deixá-los chorar. Porque homem que é homem chora. Acho que se todas as mães de meninos forem mudando a forma de educar seus bebezões, daqui a algumas gerações poderemos pensar em direitos iguais entre os sexos. Mas eu estava só lavando a louça no feriadão...

(Escrito em Belém, em Maio de 2009)

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