quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Confiança



9 meses na barriga
9 meses de convívio
9 meses de aprendizado mútuo

Bruna entrou numa fase muito gostosa, agora que faz descobertas constantes. Todo dia é uma grande aventura pra ela! Acho até que, por isso, anda mais cansada e tem dormido mais cedo que o de costume, exausta de tantas novidades.

Fico admirada de sua evolução, claro, mas outra coisa me chamou a atenção nesses dias: impressiona o quanto os bebês CONFIAM em seus pais, mais especialmente nas mães (por razões umbilicais, claro!). É tão curioso... Mesmo quando digo “não” para ela, por várias vezes, percebo que ela já estava esperando aquele não. Ela já sabia que era algo proibido, mas precisava da confirmação, do limite. E a carinha que ela faz, me olhando de canto de olho, como quem diz “esse não pode, né?”, e esperando que eu diga alguma coisa, é a face mais linda do mundo!

Mas nos momentos positivos isto fica ainda mais forte, acho eu. Nas horas em que ela precisa de uma ajudinha para completar uma façanha. Por exemplo: interessadíssima em andar, seu mais importante e constante desafio atualmente, ela sempre “se joga” e encara os maiores desafios se eu estiver ao alcance de uma mão esticada. É curioso observar movimentos que ela tenta sozinha e o quanto ela fica mais corajosa se eu estiver ao alcance da mãozinha dela. Foi então que eu percebi esta coisa da confiança. Ela sabe que não vamos deixar ela se machucar, ela sabe que se esticamos a mão para ela é porque dá par ir, ela pode tentar aquele movimento. E então ela vai. Sorrindo, confiante.

Deve ser das coisas mais simples ou óbvias da maternidade, mas quando a gente tem tempo de se dar conta das coisas simples é que a gente curte a vida, não é? Mas nem escrevendo um testamento eu conseguiria descrever o que é aquele olhar de “posso ir”, a mãozinha esticada e o sorriso depois da conquista feita. Explicar este sentimento de confiança dela e de orgulho nosso. Só sentindo pra saber.

E por que eu disse que com mãe é diferente? Simples: mesmo quando eu a impeço de fazer alguma coisa que ela quer muito – e no caso da Bruna isto significa que ela vai ficar bem brava – é só comigo que ela quer consolo. Ou seja, ela está furiosa comigo, mas é só o meu colo, meu carinho e minha justificativa que ela quer. Se ficar brava com outra pessoa, ela quer a mim também. E quando está zangada comigo, parece que me quer com urgência ainda maior. É como se ela soubesse – e sabe - que aquele “não” é importante, necessário. Mas fica chateadíssima, claro, não entende bem por que. Ela quer tanto... Então reage: se joga pra trás, grita com o máximo de decibéis, chora com lágrimas. Mas não tem Cristo que a ajude a ficar mais calma: só mãe. Mesmo que seja eu a chata, mala sem alça, que motivou tanta ‘infelicidade’ e ‘sofrimento’ (ainda bem que passageiros, não?!). Bruna tem uma veia dramática boa, esses momentos de zanga chegam a ser engraçados, tamanho o escarcéu que ela faz. Mas ela briga e ao mesmo tempo pede meu beijinho, meu abraço. Aí se acalma, mesmo que continue sem entender o porquê (e mesmo que vá tentar de novo...), mas parece saber que era necessário, importante. Passou! Sorriso no rosto de novo, olho no olho comigo, e parece que o mundo está em seu lugar. Ainda que Caetano diga sabiamente que “alguma coisa está fora da ordem” lá fora. Aqui dentro do nosso planetinha, basta que estejamos ao alcance dos olhos, para dizer “sim” ou “não” silenciosamente, para que esteja tudo bem pra ela. Seguro, confiável e feliz.

Falando deste microuniverso assim, parece um certo egoísmo nosso ou um pouco de alienação, mas o fato é que quando há um bebê em casa, podemos encaixar bem uns versos de outro cantor e compositor maravilhoso, o Cazuza, na sua música “minha flor, meu bebê”: “que prazer mais egoísta o de cuidar de um outro ser, mesmo se dando mais do que se tem pra receber. E é por isso que eu te chamo minha flor, meu bebê”.

Sei lá, gente, estava só pensando... Tudo por causa daquela carinha que ela me fez, tão confiante. :-)

(Escrito em Belém, em 28/02/2009)

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