segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Bienalizei-me.



Fui à Bienal de SP este final de semana. Desde os tempos da faculdade de museologia eu curto o evento, só tendo perdido a edição anterior - talvez a mais polêmica -, porque eu estava morando no Pará.
Adoro. Como sempre, adorei.
Farei nova visita, pois é sempre impossível ver tudo em um único dia. Com calma então...
Gosto da experiência de ir sozinha e acompanhada: fruir as obras só com meus próprios pensamentos e depois (ou antes, tanto faz) ouvir e compartilhar sensações sobre as obras com outros.
Conto aqui brevemente minhas opiniões sobre esta edição: como sempre, tudo muito. Muita coisa ruim, muita coisa boa, muitas coisas ótimas. Muito charlatanismo e muita criatividade. Quer encontrar contradição? Vá à Bienal. Deve ser isso que faz dela uma mostra tão boa. Muita coisa pra ver, muita gente, muitos, muitos, mas MUITOS mesmo, vídeos. Muita obra audiovisual. Muitos vídeos e instalações com projeções. A maioria me disse pouca coisa ou animou pouco. Vejamos se na próxima visita eu vejo algo nesta área com mais boa vontade.
Achei pífia a badalada participação dos pichadores, ditos incluídos nesta edição. Incluídos uma ova! Pixação em registro fotográfico, videográfico e em desenhos? (o que era aquele painel que parecia mural de escola pública com trabalhinhos infantis ou banheiro de boteco em grandes dimensões?) Ainda por cima, sempre nas paredes mais escondidas e perdidas do pavilhão. Nonsense pra mim. Era melhor manter os pixadores do lado de fora e assumir a não aceitação do que relegá-los àquilo.
Uma coisa que me chamou muita atenção positivamente foi que muito do que me interessava, se destacava pra mim, me encantando de alguma forma, era de alguém que nasceu ou vive e produz no nordeste. Gratas surpresas. Principalmente do Recife! Muito bacana.
E muita farra. Sempre muito bom experimentar e interagir com tantas obras.
Depois da próxima visita, postarei aqui mais comentários.
Béééé de ovelha ainda cansada de tanto andar.

sábado, 20 de novembro de 2010

Pérolas da Bruna


Esta semana Bruna estava especialmente inspirada para tiradas engraçadas.

A primeira foi ao acordar, outro dia; me olhou e sentenciou: "mãe, o seu cabelo tá todo bagunçado". Colaborando com a minha auto-estima!!! risos

Eu devia ter suposto naquele momento que ia ser uma semana animada...

Em outra ocasião, acordou cantando: "era uma casa engraçada, não tinha pareeeede". A rima é dela: novos arranjos para um clássico. hehehe Importante é que ela acordou inspirada. Quem canta, seus males espanta!

A escatológica foi ontem: "mamãe, meu bumbum espirrou". Genial!

Hoje me surpreendeu e preocupou. Acabo de vestir uma daquelas roupas horrorosas, com um super estampado, daquelas que a gente só usa em casa e olhe lá! Ela me olhou e, muito animada, comentou espontâneamente, com muita ênfase: "que lindo! Gostei dessa roupa mamãe!" Mini peruinha total. Eu devia receber como um elogio, mas fiquei mesmo foi preocupada com o gosto estético da menina. hahahaha :-)

Bruna é minha delícia, definitivamente.
Béééééé de mãe coruja! Inté.

segunda-feira, 15 de novembro de 2010

Sempre Clarice!

"O que eu sinto eu não ajo,
O que eu ajo não penso,
O que eu penso não sinto,
Do que sei sou ignorante,
Do que sinto não ignoro,
Não me entendo
e ajo como se entendesse."

Clarice Lispector

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

José

"E agora, José?
A festa acabou,
a luz apagou,
o povo sumiu,
a noite esfriou,
e agora, José?
e agora, você?
você que é sem nome,
que zomba dos outros,
você que faz versos,
que ama, protesta?
e agora, José?

Está sem mulher,
está sem discurso,
está sem carinho,
já não pode beber,
já não pode fumar,
cuspir já não pode,
a noite esfriou,
o dia não veio,
o bonde não veio,
o riso não veio,
não veio a utopia
e tudo acabou
e tudo fugiu
e tudo mofou,
e agora, José?

E agora, José?
Sua doce palavra,
seu instante de febre,
sua gula e jejum,
sua biblioteca,
sua lavra de ouro,
seu terno de vidro,
sua incoerência,
seu ódio – e agora?

Com a chave na mão
quer abrir a porta,
não existe porta;
quer morrer no mar,
mas o mar secou;
quer ir para Minas,
Minas não há mais.
José, e agora?

Se você gritasse,
se você gemesse,
se você tocasse
a valsa vienense,
se você dormisse,
se você cansasse,
se você morresse...
Mas você não morre,
você é duro, José!

Sozinho no escuro
qual bicho-do-mato,
sem teogonia,
sem parede nua
para se encostar,
sem cavalo preto
que fuja a galope,
você marcha, José!
José, para onde?
"

Ouça o próprio poeta declamando seu poema em: http://www.memoriaviva.com.br/audio/jose.mp3