quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Dezembro

Chegou o mês temido e desejado. Mais temido e mais desejado, como nunca!

Todo final de ano é a mesma coisa, ou quase.
Aquela sensação de um ciclo se concluindo, a expectativa de novos horizontes e oportunidades com a aproximação de um ano novinho em folha.
Cansaço acumulado (o que é uma injustiça com o final do ano, pois andamos assim o ano inteiro - e um delírio, como se o simples fato de virar o ano fosse fazer seu corpo ficar descansado, mas OK, de fato algumas pessoas conseguem ter aquela coisa excêntrica chamada "férias").
Tem aquela correria de final de ano, aquela sensação de que você precisa acabar tudo que ainda nem começou a fazer...
Todo ano.

Mas este dezembro é especialmente mais confuso pra mim. Nunca quis tanto que um mês chegasse e nunca quis tanto que um mês não acabasse.

Minto: na gravidez eu tive um mês assim: louca para que a Bruna nascesse e ao mesmo tempo curtindo a barriga e com um certo medinho do que viria pela frente, não queria que o dia chegasse logo, ao mesmo tempo que queria muito. Era uma sensação deliciosamente confusa.

Esse dezembro de 2011 está bem parecido. Cansada, com saudades da família e do Rio, precisando me sentir cercada por quem me ama, querendo que a filhota veja os primos e conviva mais com a família; por tudo isso, estou contando os dias para tirar minhas mini-férias, ir pro Rio, passar Natal e Reveillion em família. Ansiosa mesmo, louca para que passe rápido e chegue logo o dia de pegar o avião.
Por outro lado, calculo que precisava de mais uns 3 meses este ano para dar conta de tudo que estou fazendo, para conseguir captar todos os recursos que preciso para os projetos em que trabalho, para ajustar o compasso de uma série de coisas. Então, metade de mim quer que dezembro se arraste e que dê para fazer tudo o que preciso.

Milagre, dá pra rolar um, este mês?
Que seja breve e que seja longo.

Que haja tempo para ter sucesso em todos os compromissos. Que o encontro com a família chegue logo. Que eu tenha disposição de me desdobrar! Que eu possa parar de pensar...

Querer tudo ao mesmo tempo = esse mês essa característica está mais intensa em mim.
Não sei se o Sr. Tempo vai pisar no acelerador ou no freio. Só sei que eu vinha temendo este dia, por todo este cenário que eu vislumbrava.

E ele chegou.

01/12/2011

Lá vamos nós. Bééééé!

sábado, 5 de novembro de 2011

As pessoas de Pessoa e nós (ou sobre como a poesia faz bem...)

Ontem à noite, bem cansada, pedi ao marido que cuidasse das providências da hora de dormir com a filhota: trocar a roupa para um pijaminha, escovar dente, botar para fazer xixi. Enquanto ele providenciava tudo, deitei-me na ótima companhia de Fernando Pessoa. Ando viciada em ler seus poemas e outros escritos. O homem que era um e vários e nenhum. Uma angústia que, traduzida em palavras (as muito bem escolhidas por ele), é de uma beleza ímpar. Mas que devia ser algo terrível psicologicamente falando. Me identifico com as indefinições dele.

Mas a surpresa curiosa da noite veio com Bruna. Ela se deitou junto comigo e perguntou curiosa:

- Mamãe, o que você tá lendo?

- Poesia, filha.

- Lê pra mim?

Me vi um tantinho embananada por uns segundos. Aquela poesia angustiada para uma criança? Bom, resolvi ler em voz alta, exatamente da página em que havia parado. Mas achei que ela ia se entediar, dormir ou até reclamar. Nada. Ficou quietinha escutando, deitada aninhada comigo. Li mais uma, caprichei na entonação. Fui recitando e ela muito atenta, ouvindo. Depois da terceira ou quarta, fechei o livro e disse a ela que era hora de dormir e que ela precisava ir pra caminha dela. E ela me olhou com uma carinha muito incrédula, como quem não acreditasse que aquilo tinha que parar naquele momento e me disse:

- Lê mais pra mim, mamãe?

- Você quer que eu leia mais poesias pra você filha? Dessas mesmo que eu estava lendo?

- Sim!

A resposta simples, curta e direta, bem típica da Bruna: "sim" foi uma grata surpresa até para essa mãe toda cultural. Fernando Pessoa não era adequado para ela, pensava eu, as palavras difíceis para o vocabulário de uma menina de 3 anos não deviam fazer o menor sentido para ela... Humpf! Ledo engano. Aquilo tudo estava simplesmente bom pra ela. Agradável. Bonito. O poder da poesia.

Não sei afinal quantas li. O pai chegou pra dormir, a cama apertou e já estava tarde: hora dela ir pro quarto dela. Recital encerrado.

A noite terminou com todas as pessoas de Pessoa ecoando nos nossos corações e pensamentos.

E com uma lição aprendida pela mãe: a beleza e a força das palavras vão muito além de faixas etárias, da simples compreensão de seus significados. Poesia é ritmo e encantamento sempre

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Halloween é o cacete?! Pero que las hay...



O dia 31 de outubro chegou e não posso deixar de me incomodar com ele. Esclareço logo de cara que não tenho nada CONTRA o "dia das bruxas", apesar do título deste post. Adoro conhecer outras culturas, vê-las valorizadas, acho a festa divertida, a história do Halloween interessante, enfim, nada contra. O que eu questiono e o que me assusta é a forma como este evento tem sido tratado por nós, brasileiros. A colonização cultural americana é um fato tão evidente neste caso, que me espanta que ninguém se dê conta e que as pessoas entrem neste jogo sem sentir. E minha maior preocupação se dá ao ver escolas e profissionais da cultura e da educação no Brasil promovendo com fervor esta comemoração que não é nossa.

O Halloween é uma tradição anglo-saxã. Não guarda nenhuma relação com nada no Brasil. Entrou aqui por meio da difusão do american way of life americano, especialmente através do cinema. Estimulado pelo setor de festas e eventos e pelo comércio, que descobriram no filão do dia das bruxas um negócio lucrativo, que gera dinheiro em função da realização de festas a fantasia e eventos do tipo. O comércio de doces também agradece, obviamente. Até aí tudo bem, sou pessoalmente festeira e trabalho na área de eventos: acho ótimo termos mais uma oportunidade de negócios.

A minha implicância com o Halloween - me digam se tenho ou não razão - vem da inclusão dele como um evento do calendário nacional, de sua inclusão nos projetos pedagógicos e no calendário escolar. Ainda que informalmente, isto tem acontecido. Para quê? Por quê? Não é uma festa nossa, não guarda relação nenhuma com nossa cultura e, por isso, não faz o menor sentido que seja valorizada além do que já é comercialmente. Em pleno tempo de conscientização sobre consumo sustentável, a gente incute na cabeça das nossas crianças mais uma celebração de fundo meramente comercial, que vai estimular o consumo de porcarias descartáveis - em sua maioria de plástico, o uso descartável de fantasias e o consumo desenfreado de doces, que também já sabemos não serem recomendáveis (sem falar na questão da colonização americana, que muito me incomoda, mas nem vou entrar nessa discussão ideológica mais profunda aqui).

Temos celebrações parecidas legitimamente nossas (que até seriam comercialmente interessantes também, para ser insustentavelmente incorreta... risos) que me parecem cada vez esquecidas da nossa vida sócio-cultural, familiar e principalmente escolar. Nosso carnaval: muita gente viaja no carnaval e as crianças já não participam mais de bailinhos e se fantasiam nesta época. O baile de carnaval é bacana porque estimula o relacionamento social, valoriza a música popular brasileira, e brinca com o lúdico através das fantasias. A gente precisaria de Halloween? As brincadeiras ou travessuras, com a corrida de casa em casa atrás dos doces: alguém se lembra disso na vida? A gente fazia isso no dia de Cosme e Damião! Não importava a religião, a brincadeira era permitida para todos, mesmo quem não acreditava ou não gostava dos tais Santos. Essa tradição sumiu da nossa cultura, talvez pelo preconceito que muitos católicos e evangélicos têm em relação aos Santos que são muito cultuados pelas religiões afro. Ou pelo esnobismo de nossas classes sociais mais abastadas. A violência também pode ser um fator de impedimento de se deixar as crianças por aí, correndo pelas ruas atrás de doces. Talvez o papo politicamente correto de que doce faz mal também tenha contribuído de alguma forma... O fato é que se nos EUA, Canadá e Reino Unido as crianças podem bater de porta em porta nos condomínios com casas sem muros pedindo doces, aqui a gente tem dificuldades práticas de manter a cultura de doação de doces no Cosme e Damião, porque estamos engradeados em prédios ou condomínios, cercados de muros e grades e ninguém bate mais na porta de ninguém. Não seria muito mais pertinente trabalhar para resgatar o Cosme e Damião, que era uma tradição cultural nossa, até para quebrar os preconceitos em relação às diferentes religiões, estimular a coexistência pacífica e multicultural, do que estimular o Halloween nas escolas?

E, não posso deixar de falar do nosso FOLCLORE. O mês de agosto "passou batido" no Brasil. O tema faz parte do calendário escolar, mas muito au-pausant. Não tem festa e fantasia como no Halloween... Não tem a mídia valorizando e promovendo em cima, como tem no Halloween. Sendo que culturalmente seria muito mais rico falar dos diferentes mitos, lendas e histórias do nosso folclore, uma vez que todos guardam relação com nossos colonizadores originais (índios, negros africanos e brancos europeus) e se relacionam com nossas vidas, influenciam nossa história e modos de vida até hoje... Não teria muito mais sentido valorizar os nossos seres fantásticos (saci, mula sem cabeça, os bois do norte e nordeste, etc) do que os psicopatas e monstros alienígenas e toda a paranóia americana?

Nem dia de finados é aqui no dia 31/10. Nosso dia de culto aos mortos vem logo depois, em 2/11. Então, me explica; desenha pra mim que eu não entendi: porque abóboras estamos comemorando esse tal de Halloween mesmo, hein?!
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A minha resposta é: porque os americanos resolveram difundir isso e a gente está comprando direitinho, sem questionar, sem pensar, sem avaliar. E, pior, em breve, coisa de dez, quinze anos, este cenário terá se firmado definitivamente no Brasil. As próximas gerações vão continuar reproduzindo esta agenda, exatamente porque, na mais tenra infância, estamos fazendo nossos filhos participarem disso. Daqui a alguns anos, será normal o "dia das bruxas" e super estranho o "Cosme e Damião". O Halloween será mais comemorado do que o nosso dia do folclore, certamente. Ou o dia do Saci, que é hoje, inclusive (e acho que isso deve ter sido invenção de alguém que, como eu, implica com o Halloween e quis criar um concorrente à altura... Mas o Saci está perdendo feio, coitado!)

Mas cumpri o protocolo. Mandei minha filha fantasiada para a escola hoje. Não de bruxa, nem de monstro ou esqueleto. Tampouco tinha disponível uma fantasia relativa ao nosso folclore em casa, infelizmente. Não ia comprar uma fantasia para usar só uma vez, num dia cuja comemoração sou contra (e isso não seria uma atitude sustentável, certo?). Não sou boa em costura e no artesanato para criar uma. Então, para ela não se sentir excluída, mandei-a com a blusa vermelha que tem uma capa azul, tipo super herói (americano, né?! Dá pra fugir disso?!!!) Bom, a blusa não tem logos nem nomes de nenhum super. Então eu defendo que hoje ela era a super BRASILEIRA, a menina anti-halloween, minha super heroína em quem espero poder ver um dia refletida uma consciência crítica para brincar, aproveitar e curtir as coisas de sua geração, sem radicalismos e pré-conceitos, mas valorizando a cultura nacional e refletindo antes de consumir culturalmente e absorver conceitos e conteúdos alheios como se fossem o grande barato. Pelo menos, que ela saiba que isso não é nosso.

Deixem-me montar na minha vassoura agora! "E lá vamos nós!" que hoje eu estou meio bruxa mesmo. Las hay, las hay.

domingo, 25 de setembro de 2011

Alzheimer - a historinha

Semana passada teve o dia dedicado ao Mal de Alzheimer e me lembrei do poemeto que resolvi publicar no post abaixo.
Eu o escrevi em Belém, sensibilizada ao saber do estado de saúde de minha tia mais velha, que sofre com a doença. Tia Elieth convive com essa terrível doença há mais de 15 anos! Deve ser um triste record. Cada vez pior, atualmente ela é um ser humano com sua alma perdida em algum outro espaço-tempo. Não há o menor vestígio de quem ela um dia foi. Ouso dizer que os resquícios de humanidade que lhe restam são poucos.

Tenho medo dessa doença, confesso. Dois casos confirmados na família e a maldita da hereditariedade genética como a maior probabilidade de se ter a doença são os motivos. Não que eu viva pensando nisso, claro. Mas assusta.

Li no início desse ano um livro lindo que fala sobre a doença de uma forma pungente, emocionante, bem humorada. Ao mesmo tempo que é um livro triste, tem um ritmo de suspense que impede que você o deixe no meio do caminho. Os momentos de humor contrabalançam a trsiteza da história e fazem do livro um ótimo entretenimento.
Fica a dica: Para Sempre Alice é boa leitura garantida. A história de uma mulher super ativa, uma acadêmica - professora e pesquisadora de Harvard - que recebe o diagnóstico de Alzheimer precoce é quase um thriller que emociona e leva à reflexão sobre a vida, mesmo que você não tenha nenhum parente com o diagnóstico.
Gostei muito do livro, escrito por uma neurocientista, conhecedora profunda da doença, mas que escreve de forma romântica, não científica, uma boa contadora de histórias, que consegue escapar do risco de ser descritiva demais.
O nome da autora? Ops! Esqueci...

Alzheimer

Um branco
Um vazio
O contrário da inspiração
Solidão

Uma imensidão de vultos
Fantasmas
Emoção sem razão
Razão sem sentido

No estranho,
um amigo.
Nos amigos, a dor.

Uma vida sem passado
Uma história sem percurso
A ausência presente e permanente.

Não há mais cor nesta flor.

Escrito em Belém (PA), 23/05/2009

Justificativa

Tenho vindo pouco aqui. Não que tenha perdido o interesse no blog. Tampouco reduzi a escrita. Escrevo sempre. Bloquinhos e bloquinhos me acompanham nas bolsas e vivo registrando pensamentos, cenas do cotidiano, angústias e alegrias vividas ou imaginadas.
Mas há um motivo para eu publicar pouco. Nem sempre as pessoas sabem diferenciar quando escrevo ficções. Quais dos meus poemas e crônicas são inspirados na minha vida pessoal, real, e quais são pura imaginação, delírio ou mesmo inspiração em outrem?
E o mundo corporativo é cruel!
Complicado lidar com empresas tradicionais e correr o risco de ter palavras minhas mal interpretadas. Trabalhar com captação de recursos implica em ter uma imagem muito correta, muito neutra, positiva, honesta.
Por isso passei a tomar mais cuidado com as minhas publicações. Dou minhas escorregadas no Facebook, eu sei. Rede social mais rápida, imediata. Acabo me rendendo a pequenas confissões que traduzem meu humor. Mas tudo bem. Também não vou mudar quem sou ou criar uma imagem fake de mim mesma. Isso nunca! Tenho muitos defeitos e talvez o excesso de transparência seja um deles. Nunca consegui me esconder muito... Mas não pretendo mudar. Sempre ganhei mais sendo transparente. Bom, na verdade, nunca consegui me impor um personagem, ainda que às vezes eu pense que nunca consegui ser de verdade quem eu gostaria...
Mas isso é papo pra terapia! (risos)
Enfim, essa história de mundo corporativo tem a ver com aquela coisa de que à "mulher de Cesar não basta ser, tem que parecer". Não é assim o ditado? Então corro menos riscos me expondo menos. Como eu falei, nem tudo que eu escrevo é sobre mim, mas não há como quem me lê saber disso. E vamos combinar que não teria a menor graça eu inserir legendas explicativas em cada post... A graça de não saber até deve ser um estímulo. A dúvida atrai.
Vim aqui contar que não desisti do blog. A falta de tempo também colabora para o sumiço, para a redução de publicações. O mundo corporativo não é o único culpado pelo sumiço. Mas me intimida sim. Há que se conviver com os limites do que se faz.

A vida e nossas escolhas...

domingo, 24 de julho de 2011

Página em branco

Passei meses em branco
Meses sem falar comigo mesma
Meses tentando não me ouvir
Passei meses em branco
Em branco, ninguém me ouviu
Em branco, fez-se o silêncio
Passei meses invisível
Passei meses indizíveis
Passei meses sem passar
Fiquei só a pensar
Inútil andar
Passei meses parada
Muda, calada
Branca madrugada
Silenciada
Passei meses amuada
Passei meses em branco
Sem sonho, sem conto
Passei...
em branco.

sábado, 23 de abril de 2011

Salve Jorge

Sou filha de Jorge.
Não o Santo.
O comum - sempre especial pra mim.
Sou filha orgulhosa,
Quase devota...
Vejo seus pecados:
Mas não lhe perco a fé.
Sou filha de Jorge.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Porque hoje é Dia Nacional da Poesia!! (14/03)



POEMINHA AMOROSO

"Este é um poema de amor
tão meigo, tão terno, tão teu...
É uma oferenda aos teus momentos
de luta e de brisa e de céu...
E eu,
quero te servir a poesia
numa concha azul do mar
ou numa cesta de flores do campo.
Talvez tu possas entender o meu amor.
Mas se isso não acontecer,
não importa.
Já está declarado e estampado
nas linhas e entrelinhas
deste pequeno poema,
o verso;
o tão famoso e inesperado verso que
te deixará pasmo, surpreso, perplexo...
eu te amo, perdoa-me, eu te amo..."

Vou só



Cansei de te convidar:
Você não vem mesmo!
Não convido mais.
Logo eu, que gosto tanto de companhia.
Gostava tanto da sua...
Me eras tão agradável;
Éramos tão companheiros.
Coisa tão boa da vida andar junto,
Caminhar.
Não me entristeço.
Também não te espero mais vir.
Inspiro-me e vou.

sábado, 12 de março de 2011

Energia e Intensidade

Um ser de energia muito forte, límpida.
Clareza e transparência. Luz e beleza.
Intensidade em tudo o que vive!
Uma energia que atrai - vontade de tocar,
De roubar ou misturar...
Magia
Envolvente
Um ser de muito brilho.
Força que chama.
Atrapalhada que sou, tento disfarçar e me mostro mais ainda,
Encantada.
Energia que arrebata.
Sonho que aproxima.
Força que confunde.

O Profundo Olhar Azul

Despedida...
Partida?
Aquele profundo olhar azul
Já não me falava mais de música
Ou matemática...
Me agradecia a visita,
Como se dissesse que era bom eu estar ali,
Que me reconhecia...
Ao mesmo tempo era desespero:
Me socorre, me tira daqui!
Me deixe ir, de vez.
Aquele profundo olhar azul
Sempre será inesquecível.
A sua presença quase ausente,
A sua fragilidade e tristeza,
Toda a sua humanidade.
O profundo olhar azul me disse adeus,
Uma lágrima escorreu
E o nosso silêncio se sabia o último diálogo.
Só entre nossos olhares,
O mais profundo olhar azul foi último.


SP, fevereiro de 2011: para o avô de meu marido, Walter, que partiu e com quem troquei este profundo e silencioso olhar azul no final de 2010 (Natal), em nosso último encontro, quando ele já estava muito, muito doente.

segunda-feira, 7 de março de 2011

Dúvida carnavalesca



Desde uma pielonefrite aguda que, em 2005, me fez passar o carnaval na cama, não assistia aos desfiles das escolas de samba do Rio pela TV. Sempre gostei de carnaval, desfilei 4 anos seguidos na Tradição, mas sempre achei um pouco chato ver os desfiles pela TV. Lembro de já ter feito isso várias vezes em família, com meus pais, mas naquela época ver os desfiles pela TV era sinônimo de festa porque sempre tinham primos, tios, comes e bebes e a gente virava madrugada fazendo farra em família. Depois que saí de casa, carnaval na TV virou um porre - sem álcool.
Exceto naquele carnaval de 2005, quando a big dor renal não me deu outra alternativa.

Ontem, sei lá porquê, comecei a ver os desfiles. O da São Clemente, digno, não seria capaz de me prender. Dava umas espiadas e brincava com Bruna. O da Imperatriz teve a concorrência desleal de eu ter que colocar a Bruna para dormir; assisti pouca coisa da escola. O suficiente para achá-la com a cara da madrinha de bateria que a representa: linda e morna.

Com filha e marido na cama, decidi ler, já que estava sem sono. Mas deixei a televisão ligada. Pretendia só ver o comecinho do desfile da Portela. A escola ganhou minha atenção absoluta. Estava linda. Nem parecia ter sofrido algo com o tal incêndio. Estava animada, bonita, bem acabada. O samba era bonito, melódico, lembrava um pouco os antigos sambas. E a bateria deu um show. Várias paradinhas diferentes, coreografias, um escândalo de arrepiar. Faltava um pouco de sal na madrinha, mas não fazia a menor diferença, porque sobrava tempero ali no coração da escola. Um desfile encantador, para disputar campeonato, se não fosse o fato da Portela estar fora da disputa por conta do incêndio. Uma pena.

Aí entrou a Unidos da Tijuca do Paulo Barros. E aí entra a minha dúvida carnavalesca. Não sei, sinceramente, se adorei e se torço para a escola vencer ou se torço para ela perder... A escola estava belíssima! Era visível a qualidade e o acabamento dos carros, alegorias e fantasias. Caprichados, ricos. As sacadas geniais do Paulo, com inovações surpreendentes, encantam, prendem a atenção, nos fazem curtir. As alas com passos marcados dão um espetáculo visual, pois os passos resultam numa série de desenhos e desenrolam o tema trasnformando os cenários ao vivo, bem ali na nossa frente. Mas... Justamente esse excesso de alas com passo marcados parece tirar a alegria foliã, a espontaneidade e o direito de brincar, dançar, sambar livremente que me parecem a essência do carnaval. Em um determinado momento, me dava a impressão de que todos na Unidos da Tijuca eram atores e tinham sido contratados para sair na escola, tamanha a competência na representação de seus papáeis. Isso é ruim? Não sei. É o novo jeito de fazer carnaval? Para os olhos era de fato uma festa! Um prêmio estético para o olhar de qualquer um. Impossível não se encantar, viajar, delirar. Mas não sei se a emoção da gente é atingida da mesma forma. A bateria arrasou, o samba era bonito. Mas fiquei muito na dúvida. Além de sentir um certo deja-vú. O tema era diferente, mas escolhido a dedo para permitir o reforço da marca Paulo Barros e o flerte com o ilusionismo, os truques; o tema do medo no cinema acabou remetendo ao enredo do ano passado, sobre magia. É lindo? É. O desfile foi lindo? Foi. Merecia nota dez em tudo? Praticamente (a escola teve que acelerar o ritmo no final para não perder pontos ultrapassando o tempo e, por isso, eu não daria 10 em harmonia e evolução). Mas apesar de ter feito um desfile excelente, acho que a falta da emoção, da espontaneidade, de gente brincando feliz e descontraída fez falta. E fiquei na dúvida se eu gosto mais do carnaval para turista ver ou do carnaval da emoção e da farra.

Depois da Tijuca veio a Vila Isabel. Coitada, com um tema infeliz sobre cabelo, a escola passou meio apagada, obviamente prejudicada pela antecessora tão genial. Para desfilar depois da Tijuca, tinha que levantar a arquibancada, acender o telespectador. Ao contrário, deu sono. O samba e o enredo eram esquisitos e a escola, apesar de bonita, passou meio "normal" demais depois da apoteose "paulobarreana". Covardia? Bom, ao invés de investirem uma fortuna numa Gisele Bundchen desmilinguida, rebolando com as pernas fechadas, cruzadas como se estivesse apertada para ir ao banheiro, poderiam ter usado esta grana na criatividade para transformar o enredo estranho numa grata surpresa. Não rolou.

Eis que entra a Mangueira. Em paz, com as brigas resolvidas com Beth Carvalho, com um samba muito bonito, coerente - em homenagem a Nelson Cavaquinho no seu centenário -, a Mangueira abusou do que podia: da emoção e da tradição. Só uma escola com muita sapiência do seu crédito para dar uma parada total no som e deixar o público cantando à capela junto com os puxadores, sem bateria, sem medo de atravessar o samba. Emocionante e muito arrepiante! Paradinhas da bateria, gente alegre pulando, cantando, vibrando lá pelas tantas da manhã: essa era a Mangueira.
Não rola um saudosismo, acho que tudo deve evoluir. Esses verdadeiros produtores culturais que são as equipes das escolas de samba, se profissionalizaram, cresceram e não acho isso ruim. O carnaval para turista ver é lindo, mágico, encantador. Os blocos estão nas ruas, gratuitos, para compensar quem não pode estar na Sapucaí assistindo ou aqueles que não podem comprar uma fantasia. Super bacana, super válido.

Então, a minha dúvida persiste: o que é mais bonito, mais autêntico, mais interessante no carnaval das escolas de samba? O visual lindo e maravilhoso agregado ao bom samba e ótima bateria? Ou o carnaval com bom samba, ótima bateria e muita garra, emoção e alegria? O que é mais competente? O que será o futuro dos carnavais cariocas?

Acho que vou assistir aos desfiles da noite de hoje. Confesso que adorei o programa - mesmo solitário - que há muito tempo não fazia. O livro vai ficar pra quarta-feira de cinzas. E vai ser ótimo ter embasamento para torcer na apuração na quarta-feira. Sim, porque as apurações eu não perco nunca, mesmo não tendo visto os desfiles! Vai entender... Adoro, acho emocionante aquela disputa centésimo a centésimo.
E vamos ver se assim eu tiro a minha dúvida, que talvez seja a de muita gente.

Boa folia!

Crédito da foto: Bateria da Portela 2011, por Rodrigo Gorosito, portal G1.

segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

SP

São Paulo
A cidade da multidão
E da solidão
Da imensidão
Terra da garoa e da oportunidade
De tantos sonhos
Multiplicidade de cores
Crenças, desejos
Coloridos
Dores e misérias
Luxo e pobreza
Ostentação
Cidade infeliz
Cidade alegre
Fantasia e hipocrisia
SP é forte
Invejosa
Se espalha e se assombra
SP é tudo sendo nada
Vazia, lotada
Espalhafatosa
SP é ir embora e ficar pra sempre.

(SP, 07/12/2010)

Resgatar-me

Devolva-me a mim
Me devolva
Você me roubou
Me levou inteira
Me deixou sem mim
Mas percebi a tempo
Que não posso viver sem mim
E que ainda me amo
Sim!
Devolva-me
Você me levou de mim
Me tirou de mim mesma
Do meu eixo, do meu rumo
Fui mas quero voltar
Sou minha
Você nem soube o que fazer comigo
Me roubou para não usar
Pra não valorizar
Pra me deixar
Estando lá

Eu me quero

Me deixe!
Devolva-me a mim
Deixe-me
Mas antes de me deixar comigo
Devolva minha alegria
Faça-me o favor de devolver
Tudo aquilo que de mim roubou
Minha auto-estima
Meu tesão
Meu amor pela vida
Minha paixão
Minhas paixões
Deixe comigo de novo
A minha vida
e vá!

Rio, meu melhor amigo?

A cidade maravilhosa é como a melhor amiga. Cheia de defeitos, mas você os defende ou finge que não enxerga. A cidade maravilhosa é sua, tal qual a melhor amiga: só você a vê daquele jeito. Ela só se mostra pra você daquela forma específica.
Trocam segredos, são confidentes.
Assim como a amiga, é possível ficar anos sem vê-la. Mas sabes que está lá e que irá te receber de braços abertos, a qualquer hora, qualquer momento que queira vê-la. Quando precisar, basta ir até ela.
A cidade maravilhosa te encanta, mas também briga com você. Igualzinho a amiga.
Te expulsa, te repele, te empurra pra longe. E te chama de volta, linda, sedutora, encantadora. Irresistível.
Lindos passeios, muitas histórias vividas juntas.
Risos, choros, praias, luares: podem compartilhar tudo.
E uma permanece na história da outra.
E o melhor de tudo é saber que ela sempre vai estar ali; amada.


(RJ, 19/04/2010)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Proibição e Liberdade

Varanda de casa, uma vista estranha ao meu olhar, bem tipicamente paulista. Árida. Avenidas, carros, prédios e cinza. Céu cinza. Sem horizonte, sem montanhas, rios, praias ou lagoas. Cinza claro.
Manhã sem filha. Caixas amontoadas, bagunça, poeira. Marido no trabalho e eu só. As caixas a me esperar e um mundo de novidades, idem. Uma nova vida a me esperar. E eu ali, no nono andar, olhando pro nada adiante. Me ocorreu subitamente uma vontade de fazer algo proibido. Não sei o quê e nem porquê. Fumar um cigarro, beber um whisky às 9h da manhã? Não, não era de um vício que eu tinha vontade... Dançar feito louca na varanda? Seria uma louca anônima, provavelmente nem seria vista por ninguém. E dançar nunca foi proibido... Nua talvez? Não... Não era de contravenção o meu desejo. O que eu sentia era uma vontade enorme de fazer não sei bem o quê. Era um sentimento invadindo forte. Não necessariamente de fazer algo. Muito menos "proibido". Aí então me ocorreu que eu podia entender o que sentia e porquê pensei primeiramente em uma proibição.
Era o sentimento de liberdade que me invadia absurdamente. Mesmo que aqueles minutos não durassem muito, seriam os mais livres, desde muito tempo. Uma enorme liberdade de um futuro em aberto à minha frente. Liberdade de não ter um telefone a tocar, alguém para cuidar ou alguém que de mim cuide.
Por isso a sensação de proibido, pois o oposto é imediatamente atrativo. O que é proibido é que atrai o livre.
O que eu queria mesmo era exatamente o que eu tinha, compreendi então.
Ficar ali, olhando o nada (que não precisava mesmo ser belo; não havia em mim desejo de experimentação estética) e me sentindo extremamente livre. Respirar. Não fazer nada. Nem me mexer. Talvez nem pensar.
Em algum momento, as caixas me chamariam de volta à realidade, à rotina, de uma vida que precisa andar. Mas a incerteza dos próximos passos me fazia livre e feliz naquele momento.
Tudo era possível.
O futuro está disponível.

(SP, 10/08/2009)

Partida

Vou me embora
Sob protestos, mas vou
Por causa do maldito
Vil metal?
Razão mais besta.
Vou-me embora
O amor fica
O coração fica
O corpo vai
A maldita afirmação
A necessidade de superação
A força descomunal
para provar o quê
a quem?
Só ela me interessa
Mas a tal da pressa
Já me levpu sem pensar
Vou me embora me afirmar
Preciso disso; trabalhar
Mas o sorriso dela me acompanha
e conforta
Espero eu
estar sempre em seu coração também
Vou para logo voltar
E com ela ficar

(SP, 25/10/2010)

segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Que década!

Me dei conta tardiamente de que estamos virando não somente um ano, mas uma década. Foi-se a primeira década dos anos 2000. E aí percebi o quanto a minha vida mudou, deu voltas e reviravoltas em um espaço tão curto de tempo.

Do ano 2000 pra cá, eu fiquei independente, fui morar sozinha em outra cidade (a conta das mudanças de cidade é escandalosa: seis cidades em dez anos!), morei junto (casei), separei, dividi apartamento com amiga, morei sozinha de novo, morei junto com outro (casei de novo, então, né?), casei no civil com este cara, casei de novo no religioso – ainda com esse mesmo marido –, tivemos uma filha, trabalhei em grandes empresas, trabalhei por conta própria, montei a minha empresa, trabalhei em ONG, parei de trabalhar, fui dona de casa, voltei a trabalhar, estudei. Atualmente sou mãe, esposa, mulher, dona de casa, profissional liberal, empresária; tudo ao mesmo tempo. E sou filha, irmã, prima, sobrinha, neta (emprestada, mas sou), amiga... Ainda consigo dar atenção à família e aos amigos porque adoro pessoas, gente; eis o que me interessa na vida: compartilhar, estar junto, rodear e ser rodeada. Adoro gente! E acumulei verdadeiros amigos nesta última década.

Mas me impressionou notar que quase tudo o que aconteceu na minha vida adulta, as conquistas e derrotas mais importantes, as grandes mudanças, os grandes passos – os pequenos também -, as mudanças definitivas, as dores, os amores, os partos... tudo aconteceu de 2000 para cá.

Quando eu penso em tudo o que eu já fiz ou desfiz, parece que se passaram 30 anos!
E só agora, na virada desse ano é que me dei conta de que esse mundaréu de coisas aconteceu só numa década. Vivi dez anos a mil, como diria o Lobão. Não sei se isso é bom ou ruim e nem pretendo avaliar isso. Foi assim. E pronto! Mas é curioso.

Talvez tivesse sido bom ter tido tempo para digerir tantas mudanças. Mas talvez o amadurecimento seja assim mesmo: as coisas vão se atropelando e quando a gente menos espanta, está cascuda.

Gosto do que vivi, não trago arrependimentos ou rancores no coração, como diz a super em moda presidente do Brasil. Pelo contrário, trago orgulhos e sonhos, desejos, esperanças. Quem sabe até algum ideal.

E quando olho pra frente não crio muitas expectativas, descobri que não as tenho. Fui parceira do acaso todo esse tempo e para o futuro não saberia agir diferente. Não quero dizer com isso que eu deixo as coisas acontecerem na minha vida. Tive as rédeas dela em minhas mãos a maior parte do tempo na década passada, mas, analisando tudo, vejo que o acaso foi um parceiro freqüente. Nada acontece por acaso, dirão alguns. Foi Deus? Fui eu, inconscientemente, quem trilhou cada caminho e mudança na minha própria vida?

Acho que as três coisas juntas.

Tenho planos para o meu futuro mas descobri, ou percebi só agora, que não sou uma mulher de expectativas. Aprendi que a gente faz com a vida e a vida faz com a gente um monte de coisas. Então deixo fluir. Perseguindo meus objetivos, mas os deixo mudar, aceito as surpresas de Deus, do destino, do acaso, ou que tenham sido geradas pelo meu próprio subconsciente. Não importa.

Tomara apenas que ao fim da próxima década eu possa olhar pra trás e me orgulhar, curtir e rir da minha própria história, como eu faço agora. No fundo, no fundo, é só isso que eu espero. E que venham mais décadas pela frente!