Texto com título de novela da Record é dose, né? Ai, ai, estou rolando de rir comigo mesma. Mas é para onde meus pensamentos me levaram, então deixa assim.
Estava pensando nos rumos que tomamos na vida, às vezes tão díspares de tudo o que imaginam para nós ou do que nós mesmos sonhamos um dia. Duas situações engraçadas da minha vida me fizeram pensar nisso: meu dom com crianças e o meu incontrolável impulso pela escrita.
Quando eu era criança, eu queria ser escritora. Hoje, quando as pessoas (pra minha felicidade, várias) dizem que eu deveria publicar meus textos, eu rio achando a idéia absurdamente fora da realidade. Gosto de escrever mas acho que meus textos, que servem como divã (ei, estou assumindo que uso você aí do outro lado como terapia, viu?!) são muito pessoais, não interessam a ninguém, a não ser aqueles que me conhecem, que podem saber um pouco mais de mim, o que estou passando ou pensando e algumas vezes se identificar, daí gostarem do que escrevo. Mas publicar para quem, cara pálida? Quem vai querer saber das desventuras de uma desconhecida por Belém ou pelos momentos mais básicos e simples da vida?
Mas fiquei refletindo onde foi parar aquela minha vontade de ser escritora? E sobre os meus poemas, que eu nunca mostro a ninguém! Os meus devaneios eu ainda compartilho com vocês, como estou fazendo agora. Mas minhas poesias sempre ficaram trancafiadas. Porque será? Muitas vezes penso que sou exigente demais: alguém que ama Manuel Bandeira e Ferreira Gullar não pode sair publicando um monte de poemetos. Minha cara de pau não chega a tanto! Então, será que eu deixei a vontade de ser escritora em algum lugar do passado por ser autocrítica demais? Acho que eu precisaria de um divã de verdade – e tempo, muito tempo – para descobrir isso.
Com as crianças a reflexão é ainda mais interessante. Sempre tive muito jeito para lidar com crianças, mesmo quando eu era praticamente uma. Aliás, sempre fui paciente com crianças, idosos e doentes mentais. Sério; acreditem! O que me falta de paciência com adultos normais me sobra para lidar com estes seres especiais do mundo, não me perguntem por quê. Eu era adolescente, as amigas da minha idade já queriam namorar e eu ficava brincando com as crianças menores. Fazia peça de teatro (adaptação de texto, inclusive, claaaaaro!), festa junina... Não só criava e ensaiava a turminha como ainda me apresentava junto com eles! Até me vestir de mamãe Noel para uma festinha de Natal pras crianças eu já fiz. Em plena época do horror a “micos”, que é a adolescência... Muita gente achava e me dizia que eu tinha que trabalhar com crianças. Mas aí é que está o ponto da minha reflexão, hoje: eu nunca sequer pensei nisso!
As mães aqui do condomínio já me conhecem, porque as crianças todas vêm aqui pra casa brincar “com a Bruna”. Na verdade, a garotada gosta mesmo é de fazer farra comigo e eu tenho a maior paciência com a turminha toda. Fazemos a maior algazarra juntos e, geralmente, tem chororô na hora deles irem embora daqui. Eu sou a mãe que brinca com as crianças, o que surpreende as outras, que me perguntam sempre se eu trabalhava com crianças. Daí eu ter me lembrado do que me diziam anos atrás e ter ficado me perguntando: mas porque será que eu nunca sequer cogitei esta hipótese?
Definitivamente eu não sei explicar os caminhos que tomamos na vida. Talvez eu devesse apronfudar a reflexão e até mudar o título deste texto para “porque não?”. Mas confesso que gosto das coisas como estão, ou seja, da minha vida como ela está, então prefiro apenas achar curioso que eu nunca tenha levado a sério a possibilidade de ser escritora ou de trabalhar com crianças e idosos.
Às vezes, solucionamos a vida por exclusão.
(Escrito em Belém, em 26/04/2009)
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