segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

SP

São Paulo
A cidade da multidão
E da solidão
Da imensidão
Terra da garoa e da oportunidade
De tantos sonhos
Multiplicidade de cores
Crenças, desejos
Coloridos
Dores e misérias
Luxo e pobreza
Ostentação
Cidade infeliz
Cidade alegre
Fantasia e hipocrisia
SP é forte
Invejosa
Se espalha e se assombra
SP é tudo sendo nada
Vazia, lotada
Espalhafatosa
SP é ir embora e ficar pra sempre.

(SP, 07/12/2010)

Resgatar-me

Devolva-me a mim
Me devolva
Você me roubou
Me levou inteira
Me deixou sem mim
Mas percebi a tempo
Que não posso viver sem mim
E que ainda me amo
Sim!
Devolva-me
Você me levou de mim
Me tirou de mim mesma
Do meu eixo, do meu rumo
Fui mas quero voltar
Sou minha
Você nem soube o que fazer comigo
Me roubou para não usar
Pra não valorizar
Pra me deixar
Estando lá

Eu me quero

Me deixe!
Devolva-me a mim
Deixe-me
Mas antes de me deixar comigo
Devolva minha alegria
Faça-me o favor de devolver
Tudo aquilo que de mim roubou
Minha auto-estima
Meu tesão
Meu amor pela vida
Minha paixão
Minhas paixões
Deixe comigo de novo
A minha vida
e vá!

Rio, meu melhor amigo?

A cidade maravilhosa é como a melhor amiga. Cheia de defeitos, mas você os defende ou finge que não enxerga. A cidade maravilhosa é sua, tal qual a melhor amiga: só você a vê daquele jeito. Ela só se mostra pra você daquela forma específica.
Trocam segredos, são confidentes.
Assim como a amiga, é possível ficar anos sem vê-la. Mas sabes que está lá e que irá te receber de braços abertos, a qualquer hora, qualquer momento que queira vê-la. Quando precisar, basta ir até ela.
A cidade maravilhosa te encanta, mas também briga com você. Igualzinho a amiga.
Te expulsa, te repele, te empurra pra longe. E te chama de volta, linda, sedutora, encantadora. Irresistível.
Lindos passeios, muitas histórias vividas juntas.
Risos, choros, praias, luares: podem compartilhar tudo.
E uma permanece na história da outra.
E o melhor de tudo é saber que ela sempre vai estar ali; amada.


(RJ, 19/04/2010)

domingo, 27 de fevereiro de 2011

Proibição e Liberdade

Varanda de casa, uma vista estranha ao meu olhar, bem tipicamente paulista. Árida. Avenidas, carros, prédios e cinza. Céu cinza. Sem horizonte, sem montanhas, rios, praias ou lagoas. Cinza claro.
Manhã sem filha. Caixas amontoadas, bagunça, poeira. Marido no trabalho e eu só. As caixas a me esperar e um mundo de novidades, idem. Uma nova vida a me esperar. E eu ali, no nono andar, olhando pro nada adiante. Me ocorreu subitamente uma vontade de fazer algo proibido. Não sei o quê e nem porquê. Fumar um cigarro, beber um whisky às 9h da manhã? Não, não era de um vício que eu tinha vontade... Dançar feito louca na varanda? Seria uma louca anônima, provavelmente nem seria vista por ninguém. E dançar nunca foi proibido... Nua talvez? Não... Não era de contravenção o meu desejo. O que eu sentia era uma vontade enorme de fazer não sei bem o quê. Era um sentimento invadindo forte. Não necessariamente de fazer algo. Muito menos "proibido". Aí então me ocorreu que eu podia entender o que sentia e porquê pensei primeiramente em uma proibição.
Era o sentimento de liberdade que me invadia absurdamente. Mesmo que aqueles minutos não durassem muito, seriam os mais livres, desde muito tempo. Uma enorme liberdade de um futuro em aberto à minha frente. Liberdade de não ter um telefone a tocar, alguém para cuidar ou alguém que de mim cuide.
Por isso a sensação de proibido, pois o oposto é imediatamente atrativo. O que é proibido é que atrai o livre.
O que eu queria mesmo era exatamente o que eu tinha, compreendi então.
Ficar ali, olhando o nada (que não precisava mesmo ser belo; não havia em mim desejo de experimentação estética) e me sentindo extremamente livre. Respirar. Não fazer nada. Nem me mexer. Talvez nem pensar.
Em algum momento, as caixas me chamariam de volta à realidade, à rotina, de uma vida que precisa andar. Mas a incerteza dos próximos passos me fazia livre e feliz naquele momento.
Tudo era possível.
O futuro está disponível.

(SP, 10/08/2009)

Partida

Vou me embora
Sob protestos, mas vou
Por causa do maldito
Vil metal?
Razão mais besta.
Vou-me embora
O amor fica
O coração fica
O corpo vai
A maldita afirmação
A necessidade de superação
A força descomunal
para provar o quê
a quem?
Só ela me interessa
Mas a tal da pressa
Já me levpu sem pensar
Vou me embora me afirmar
Preciso disso; trabalhar
Mas o sorriso dela me acompanha
e conforta
Espero eu
estar sempre em seu coração também
Vou para logo voltar
E com ela ficar

(SP, 25/10/2010)