Sou composta por urgências:
minhas alegrias são intensas
minhas tristezas, absolutas.
Me entupo de ausências,
me esvazio de excessos.
Eu não caibo no estreito, eu só vivo nos extremos.
Pensamentos soltos + pitadas (ou palpitadas?) sobre cultura + poesias + punhado de histórias vividas ou não + contos e crônicas de uma ovelha negra bem colorida = salada bem temperada. Seja bem vindo e sirva-se à vontade!
quarta-feira, 23 de junho de 2010
sábado, 19 de junho de 2010
Amizades
Uma amiga me procurou porque está passando por um momento difícil, seu marido está com um câncer e embora estejam encarando a má notícia com muita fé, esperança e positividade, é claro que nestas horas a gente quer o "colo" de um amigo.
A notícia me trouxe várias inspirações para escrever, por vários motivos e assuntos. Pensar sobre intuição (na mesma noite em que ela me escreveu eu sonhei com o nosso grupo de amigos...); sobre vida e morte, o tudo ou nada da vida; sobre doenças e o quanto mudamos nossa visão de mundo depois de passar por uma; sobre família; sobre apoio e tristeza. Enfim, muitos temas passaram pela minha cabeça e acabei não escrevendo sobre nenhum deles.
Mas um dado me impressionou (não mais do que a triste notícia, é claro) e desviou a atenção para este outro papo.
Este ano fazem 20 anos que sou amiga desta pessoa de quem estou falando. 20 ANOS!!! Me impressionei com o número. E somos grandes amigas. É tanto tempo (e parece tão pouco, pois me lembro como se fosse ontem)... E aí fiquei pensando sobre amizades e quantos amigos de longa data eu tenho a sorte de ter. Amizades de infância (+ de 30anos!), uma amiga há 25 anos, este grupo de amigos de 20 anos de convívio (meu marido é parte deste grupo, mas chegou um pouco mais tarde: são 18 anos de amizade), amigos de faculdade, amigos nas cidades onde morei, amigos de trabalho... Sem contar os primos-irmãos, a família.
Acho que sou uma pessoa de sorte. Aquela frase lugar-comum que 'amigos de verdade são poucos' ou 'se contam nos dedos' não se aplica a mim. O que eu não acho que seja nenhuma vantagem, não estou aqui "tirando onda", pois pra mim um único bom amigo já faz toda a diferença na vida de uma pessoa. Mas de fato, eu tenho pessoas que me acompanham há muito, muito tempo. Estão sempre ali. Sei que posso contar com elas nas dificuldades. Mas prefiro sempre acioná-las nas alegrias! Mas caminhamos juntos, trocando.
O que eu acho é que amigo não é aquele que está junto com você o tempo todo. Não é preciso ver todo dia, falar 5 vezes por semana... É possível manter verdadeiras amizades com diferentes construções de tempo e participação na vida das pessoas. Com diferentes interações. A verdade do sentimento, o carinho, o apoio mútuo são as bases desta construção. E é claro que ela fica maior à medida que tem presença, sem dúvida.
Fico feliz em ter tão longas e duradouras amizades. Que mais alegrias possam ser compartilhadas, mas que a gente possa também enfrentar juntos os momentos de dor. E que a vida nos traga ainda mais amigos. Por mim, cabe mais!
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quinta-feira, 17 de junho de 2010
Vídeo no link abaixo
http://www.ted.com/talks/lang/por_br/chimamanda_adichie_the_danger_of_a_single_story.html
Não se assustem com o tempo do vídeo, GANHEM este tempo em suas vidas. Saber, a gente até sabe, mas nunca reflete sobre e, muito menos, põe em prática. E continua por aí repetindo esteriótipos...
Linda reflexão poética sobre dominação, história, poder, cultura.
"Histórias importam. Muitas histórias importam." Assistam!
Não se assustem com o tempo do vídeo, GANHEM este tempo em suas vidas. Saber, a gente até sabe, mas nunca reflete sobre e, muito menos, põe em prática. E continua por aí repetindo esteriótipos...
Linda reflexão poética sobre dominação, história, poder, cultura.
"Histórias importam. Muitas histórias importam." Assistam!
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quarta-feira, 16 de junho de 2010
A Primeira Copa a Gente Nunca Esquece
A Primeira Copa a Gente Nunca Esquece OU A Melhor Companhia
Fiquei um pouco chateada ao me dar conta que veria o primeiro jogo do Brasil na Copa sozinha. Sozinha não, em ilustríssima companhia, a da minha filha. Mas confesso que não gostei de ter sido chutada pra escanteio pelo marido, que decidiu ver o jogo de estréia da seleção brasileira com os amigos do trabalho. Pra não cometer injustiça, digo que ele nos “convidou” a ir, na véspera, da seguinte forma: “tem gente que vai levar a família, mas é complicado pra você chegar lá com a Bruna, o metrô vai estar cheio, é tumultuado, muito longe”. Bem nítido que colocou todos os empecilhos para nos desestimular a fazer qualquer movimento naquela direção. Ok. Dormimos, mas acordei com aquele sentimento de solidão que bate nestas horas em que todo mundo se junta com alguém em algum lugar pra ver o Brasil entrar em campo e você se dá conta de que deve ser o único brasileiro que não tem pra onde ir. Logo eu, super festeira, animada pra bagunça, não ia ter com quem compartilhar, afinal, ainda não tenho amizades de trabalho tão íntimas por aqui e a família está distante (tenho um casal de primos aqui, mas eles têm os compromissos deles, a turma deles; além de morarmos bem distantes).
Mas ao acordar, decidi então que teria um ótimo dia com a filhota e que aproveitaria a parada do país para ficar com a Bruna. Avisei na creche que nem ia levá-la, deixei-a dormir até a hora que quis e, enquanto isso, trabalhei um pouquinho. Brincamos na cama quando ela acordou, a farra começou. Tomamos café da manhã e banho juntas. Pusemos muitas roupas para aplacar o frio de SP e fomos à rua pegar um solzinho. Ela brincou na área de lazer aqui perto e depois foi comigo ao mercado. Voltamos para almoçar e enquanto ela via desenhos, eu consegui trocar mais alguns e-mails, resolver uma coisa ou outra pelo computador. Alguns minutos antes do jogo começar, eu já estava ensaiando com ela. Fizemos muito barulho, batendo pás e panelinhas, baldes, todos os brinquedos dela que podiam virar percussão, gritando “Brasil! Brasil!” E muitos gritos de “goooolll!!!” Bruna entrou no clima e estava animada com a agitação provocada por mim. Achou tudo muito divertido. Ria, dançava e pulava. O jogo começou e continuamos a fazer nosso barulho e farra. Depois de uns minutos de apreensão e tédio com o jogo ruim e sem gols, Bruna resolveu a questão: foi no quarto apanhar a sua bola e começamos nós duas a jogar, quase como se ela dissesse “ah, esse jogo aí tá ruim, vamos fazer o nosso que é melhor”. No intervalo preparei pra ela um suco de laranja natural e pipoca pra nós duas. Como continuamos a farra com a bola, acabamos fazendo um golaço antes do Brasil: acertamos o balde de pipocas e fizemos uma lambança fenomenal na sala! Saíram os gols e a Bruna resolveu imitar o barulho das buzinas que ouvimos daqui. “Bi bi fón fón” Nos últimos minutos, estávamos já cansadas da farra, assistindo ao jogo deitadas no sofá, agarradinhas. Depois do jogo eu arrumei a bagunça enquanto ela dormia e fiquei pensando o quanto foi divertido e gostoso ficar sozinha com ela pra ver o jogo. Tem melhor companhia no mundo?
Quando o pai chegou, ela deu logo os “instrumentos de percussão” pra mostrar a ele como torcer e mostrou como gritar “gol” e “Brasil” com as mãos pra cima. Ao final do nosso dia, no meu momento de oração (sim eu faço isso!), me senti grata. Ao mesmo tempo em que eu sofro com a falta de independência e me incomodo muito com a lentidão natural que se leva para se sair dessa situação, de forma empreendedora, tendo que reconstruir uma carreira após dois anos fora do mercado e chegando num mercado de trabalho novo, ainda por cima sem nenhum apoio ou suporte; eu me sinto muito feliz de poder ter as rédeas dos meus horários e poder tirar um dia para pular, cantar, gritar, fazer bagunça e torcer pro Brasil com a minha filha.
Eu não sei se ela vai lembrar da sua primeira Copa do Mundo quando crescer, afinal é ainda muito pequena (2 aninhos recém-completados), mas eu não vou esquecer jamais da Primeira Copa do Mundo com a Bruna.
Fiquei um pouco chateada ao me dar conta que veria o primeiro jogo do Brasil na Copa sozinha. Sozinha não, em ilustríssima companhia, a da minha filha. Mas confesso que não gostei de ter sido chutada pra escanteio pelo marido, que decidiu ver o jogo de estréia da seleção brasileira com os amigos do trabalho. Pra não cometer injustiça, digo que ele nos “convidou” a ir, na véspera, da seguinte forma: “tem gente que vai levar a família, mas é complicado pra você chegar lá com a Bruna, o metrô vai estar cheio, é tumultuado, muito longe”. Bem nítido que colocou todos os empecilhos para nos desestimular a fazer qualquer movimento naquela direção. Ok. Dormimos, mas acordei com aquele sentimento de solidão que bate nestas horas em que todo mundo se junta com alguém em algum lugar pra ver o Brasil entrar em campo e você se dá conta de que deve ser o único brasileiro que não tem pra onde ir. Logo eu, super festeira, animada pra bagunça, não ia ter com quem compartilhar, afinal, ainda não tenho amizades de trabalho tão íntimas por aqui e a família está distante (tenho um casal de primos aqui, mas eles têm os compromissos deles, a turma deles; além de morarmos bem distantes).
Mas ao acordar, decidi então que teria um ótimo dia com a filhota e que aproveitaria a parada do país para ficar com a Bruna. Avisei na creche que nem ia levá-la, deixei-a dormir até a hora que quis e, enquanto isso, trabalhei um pouquinho. Brincamos na cama quando ela acordou, a farra começou. Tomamos café da manhã e banho juntas. Pusemos muitas roupas para aplacar o frio de SP e fomos à rua pegar um solzinho. Ela brincou na área de lazer aqui perto e depois foi comigo ao mercado. Voltamos para almoçar e enquanto ela via desenhos, eu consegui trocar mais alguns e-mails, resolver uma coisa ou outra pelo computador. Alguns minutos antes do jogo começar, eu já estava ensaiando com ela. Fizemos muito barulho, batendo pás e panelinhas, baldes, todos os brinquedos dela que podiam virar percussão, gritando “Brasil! Brasil!” E muitos gritos de “goooolll!!!” Bruna entrou no clima e estava animada com a agitação provocada por mim. Achou tudo muito divertido. Ria, dançava e pulava. O jogo começou e continuamos a fazer nosso barulho e farra. Depois de uns minutos de apreensão e tédio com o jogo ruim e sem gols, Bruna resolveu a questão: foi no quarto apanhar a sua bola e começamos nós duas a jogar, quase como se ela dissesse “ah, esse jogo aí tá ruim, vamos fazer o nosso que é melhor”. No intervalo preparei pra ela um suco de laranja natural e pipoca pra nós duas. Como continuamos a farra com a bola, acabamos fazendo um golaço antes do Brasil: acertamos o balde de pipocas e fizemos uma lambança fenomenal na sala! Saíram os gols e a Bruna resolveu imitar o barulho das buzinas que ouvimos daqui. “Bi bi fón fón” Nos últimos minutos, estávamos já cansadas da farra, assistindo ao jogo deitadas no sofá, agarradinhas. Depois do jogo eu arrumei a bagunça enquanto ela dormia e fiquei pensando o quanto foi divertido e gostoso ficar sozinha com ela pra ver o jogo. Tem melhor companhia no mundo?
Quando o pai chegou, ela deu logo os “instrumentos de percussão” pra mostrar a ele como torcer e mostrou como gritar “gol” e “Brasil” com as mãos pra cima. Ao final do nosso dia, no meu momento de oração (sim eu faço isso!), me senti grata. Ao mesmo tempo em que eu sofro com a falta de independência e me incomodo muito com a lentidão natural que se leva para se sair dessa situação, de forma empreendedora, tendo que reconstruir uma carreira após dois anos fora do mercado e chegando num mercado de trabalho novo, ainda por cima sem nenhum apoio ou suporte; eu me sinto muito feliz de poder ter as rédeas dos meus horários e poder tirar um dia para pular, cantar, gritar, fazer bagunça e torcer pro Brasil com a minha filha.
Eu não sei se ela vai lembrar da sua primeira Copa do Mundo quando crescer, afinal é ainda muito pequena (2 aninhos recém-completados), mas eu não vou esquecer jamais da Primeira Copa do Mundo com a Bruna.
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domingo, 13 de junho de 2010
Mensagem bonita
Vejam o vídeo no link abaixo... (não consegui postar o vídeo diretamente aqui)
Eu sempre acho estas imagens sobrepostas em ppt super cafonas e tenho lá minhas dúvidas se este texto é mesmo do Fernando Pessoa, mas estou sem tempo pra pesquisar se é verdade ou não.
O que importa é que achei a mensagem bonita, me identifiquei e resolvi, por isso, compartilhar aqui. Confiram pelo link.
Bééé!
Inté.
http://www.youtube.com/watch?v=b9eQp-z2zjs
Eu sempre acho estas imagens sobrepostas em ppt super cafonas e tenho lá minhas dúvidas se este texto é mesmo do Fernando Pessoa, mas estou sem tempo pra pesquisar se é verdade ou não.
O que importa é que achei a mensagem bonita, me identifiquei e resolvi, por isso, compartilhar aqui. Confiram pelo link.
Bééé!
Inté.
http://www.youtube.com/watch?v=b9eQp-z2zjs
quinta-feira, 10 de junho de 2010
Cultura do Futebol no "País do Futebol"
Pensei em intitular este texto como "somos todos idiotas?", mas depois achei agressivo demais.
Seria a paixão brasileira pelo futebol uma questão cultural?
Ou somos todos influenciados pela mídia, sempre tachada por pseudo cronistas - como eu - de vilã da história.
Mas afinal, é a sociedade que pauta a mídia e a faz transformar o futebol no assunto central de todas as conversas em tempo de Copa do Mundo ou somos mesmo influenciados por ela a entrar na onde futebolística?
Eu sei que todo ano de Copa eu faço o mesmo discurso: não vou participar, não quero saber. Acho um absurdo o país parar por causa de um campeonato de futebol e nem quero saber quem foram os convocados. Não leio o caderno de esportes do jornal e sigo antipática e convicta na minha certeza de que não vou cair em tentação e não vou torcer.
Mas chega o primeiro jogo e, inexplicavelmente, lá estou eu parada em frente à TV, angustiada, sofrendo, berrando - me esgoelando, pra ser mais precisa - torcendo. Seria amor ao meu país? Não sei explicar qual o vírus que me contamina, mas sei que este ano resolvi ser um pouco mais sincera comigo mesma: há uma semana da Copa*, continuo sem saber a escalação do time e sem ler o caderno de esportes, mas comprei um boné verde e amarelo escrito BRASIL bem grande na testa.
* = escrevi este texto no meu iphone, alguns dias atrás e só hoje - dia da abertura oficial da Copa - postei aqui.
Seria a paixão brasileira pelo futebol uma questão cultural?
Ou somos todos influenciados pela mídia, sempre tachada por pseudo cronistas - como eu - de vilã da história.
Mas afinal, é a sociedade que pauta a mídia e a faz transformar o futebol no assunto central de todas as conversas em tempo de Copa do Mundo ou somos mesmo influenciados por ela a entrar na onde futebolística?
Eu sei que todo ano de Copa eu faço o mesmo discurso: não vou participar, não quero saber. Acho um absurdo o país parar por causa de um campeonato de futebol e nem quero saber quem foram os convocados. Não leio o caderno de esportes do jornal e sigo antipática e convicta na minha certeza de que não vou cair em tentação e não vou torcer.
Mas chega o primeiro jogo e, inexplicavelmente, lá estou eu parada em frente à TV, angustiada, sofrendo, berrando - me esgoelando, pra ser mais precisa - torcendo. Seria amor ao meu país? Não sei explicar qual o vírus que me contamina, mas sei que este ano resolvi ser um pouco mais sincera comigo mesma: há uma semana da Copa*, continuo sem saber a escalação do time e sem ler o caderno de esportes, mas comprei um boné verde e amarelo escrito BRASIL bem grande na testa.
* = escrevi este texto no meu iphone, alguns dias atrás e só hoje - dia da abertura oficial da Copa - postei aqui.
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Tomei coragem
Escrever é se expor.
Escrever é se separar...
Escrever é um exercício de pensamento.
O que se escreve fica gravado, o que não significa que as opiniões sejam estáticas como letras impressas. Elas mudam.
Aí temos que escrever de novo. Reescrever.
Repensar. Se expor de novo.
E lá vou eu nessa aventura!
Mistura de antigo desejo e medo, excitação alegre de quem estréia e ansiedade séria de debater.
Aqui eu brinco, desabafo, vomito sentimentos.
Cultura e Mercado é um trabalho sério e respeitado, há mais de 12 anos no ar. Responsabilidade...
Está lá no site Cultura e Mercado, publicado pela primeira vez, um texto meu. Pensando o financiamento à cultura brasileiro a partir de uma provocação de um antigo texto, do mesmo site. Confiram e opinem.
Aguardo vocês por lá (e por aqui também).
Bééééé de ovelha, bjs de Dani.
Link direto pro meu texto:
http://www.culturaemercado.com.br/ideias/a-arte-e-o-mecenato-brasileiro/
quarta-feira, 9 de junho de 2010
Cena vivida
Um dia corrido o de ontem e o metrô estava bem cheio embora ainda fosse meio de tarde em São Paulo.
Um grito estranho - mais parecia um grunhido muito alto - dentro do vagão e correria. Abre-se uma clareira improvável dentro do vagão e, nela, um homem estendido no chão, muito vermelho, se debate. Era um homem enorme. Ao contrário do instinto da maioria das pessoas ali presente, fui em sua direção e gritei "convulsão" para que as pessoas parassem de correr com medo e se aproximassem para também ajudar. Mas não fiz muito mais que isso também, sem saber como agir. Pensei na língua do sujeito, mas não era um ataque epilético e a grande verdade é que eu também, além de não saber como ajudar, embora tivesse o instinto de amparar aquela pessoa; eu também temia. E não tinha a menor certeza do que estava acontecendo. Milésimos de segundo e mil coisas passam pela cabeça. Drogado? Palhaçada? Ataque epilético? Convulsão? Poderia ele ficar agressivo e ser violento? Nesses poucos segundos a vermilhidão do sujeito se desfez e era possível perceber que ele não se sufocava. Respirava. Foi encolhendo. Aquele homem enorme foi se encolhendo todo, parando de tremer. As mãos estavam machucadas do impacto no chão e possivelmente na barra de ferro do metrô, durante a queda. Dois homens jovens se aproximaram. Só eu e os dois homens nos mantínhamos próximos ao sujeito enorme que agora era um pequeno ser encolhido, babando muito. Não saberia dizer se ele se encolhia por vergonha ou se era parte do que sentia o que lhe fazia se embrulhar em si mesmo. Um dos rapazes me deu sua mochila, sem dizer uma só palavra, para que eu segurasse. Eu também nada disse. Os dois homens então conseguiram carregar e levantar o sujeito. As portas do metrô apitavam: outra estação. Saíram os três. Os rapazes o colocaram no chão do lado de fora do vagão e um funcionário do metrô já se aproximava. Aquele homem enorme continuava sem conseguir se erguer e babando. Piiiiiiiiiiii. Novo apito, as portas vão se fechar. Só então consegui pronunciar algo novamente: "moço, sua mochila". O rapaz a pegou e entrou no vagão. O outro também voltou para o vagão e o homem convalescente ficou ali fora, no chão da estação, com o funcionário do metrô. Ninguém disse nada. Ninguém sabia nada. As portas se fecharam e as vidas se seguiram, cada uma em sua direção. O vagão já não tinha espaços vazios novamente. Mas estava vazio de sons.
Um grito estranho - mais parecia um grunhido muito alto - dentro do vagão e correria. Abre-se uma clareira improvável dentro do vagão e, nela, um homem estendido no chão, muito vermelho, se debate. Era um homem enorme. Ao contrário do instinto da maioria das pessoas ali presente, fui em sua direção e gritei "convulsão" para que as pessoas parassem de correr com medo e se aproximassem para também ajudar. Mas não fiz muito mais que isso também, sem saber como agir. Pensei na língua do sujeito, mas não era um ataque epilético e a grande verdade é que eu também, além de não saber como ajudar, embora tivesse o instinto de amparar aquela pessoa; eu também temia. E não tinha a menor certeza do que estava acontecendo. Milésimos de segundo e mil coisas passam pela cabeça. Drogado? Palhaçada? Ataque epilético? Convulsão? Poderia ele ficar agressivo e ser violento? Nesses poucos segundos a vermilhidão do sujeito se desfez e era possível perceber que ele não se sufocava. Respirava. Foi encolhendo. Aquele homem enorme foi se encolhendo todo, parando de tremer. As mãos estavam machucadas do impacto no chão e possivelmente na barra de ferro do metrô, durante a queda. Dois homens jovens se aproximaram. Só eu e os dois homens nos mantínhamos próximos ao sujeito enorme que agora era um pequeno ser encolhido, babando muito. Não saberia dizer se ele se encolhia por vergonha ou se era parte do que sentia o que lhe fazia se embrulhar em si mesmo. Um dos rapazes me deu sua mochila, sem dizer uma só palavra, para que eu segurasse. Eu também nada disse. Os dois homens então conseguiram carregar e levantar o sujeito. As portas do metrô apitavam: outra estação. Saíram os três. Os rapazes o colocaram no chão do lado de fora do vagão e um funcionário do metrô já se aproximava. Aquele homem enorme continuava sem conseguir se erguer e babando. Piiiiiiiiiiii. Novo apito, as portas vão se fechar. Só então consegui pronunciar algo novamente: "moço, sua mochila". O rapaz a pegou e entrou no vagão. O outro também voltou para o vagão e o homem convalescente ficou ali fora, no chão da estação, com o funcionário do metrô. Ninguém disse nada. Ninguém sabia nada. As portas se fecharam e as vidas se seguiram, cada uma em sua direção. O vagão já não tinha espaços vazios novamente. Mas estava vazio de sons.
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