sexta-feira, 7 de maio de 2010

Recados


Mando recados para quem não os lê
De que adiantam?
São sinais, são pistas. Provas.
Avisos?
Chances.

Espero vozes de bocas que se calam
Falo a quem não me ouve
E sigo passos acelerados
Rumo a lugar nenhum.
Tenho o nada em tudo.
Sou tudo nada ou pelo menos muito nada.

Escrevo pra ninguém
E espero o que não sei.
Nunca indiferente.
Anseio...
Apenas não posso definir.
Vivo sem paixão
E sem solidão
Mas com solitude.
Não sei desistir.
Insisto no que não acontece
E acostumo o ser a não ser
Sendo.


SP, 26/04/2010

2 comentários:

  1. Dani, só Adélia salva:

    "Eu sei escrever.
    Escrevo cartas, bilhetes, lista de compras,
    composição escolar narrando o belo passeio
    à fazenda da vovó que nunca existiu
    porque ela era pobre como Jó.
    Mas escrevo também coisas inexplicáveis:
    quero ser feliz, isto é amarelo.
    E não consigo, isto é dor.
    Vai-te de mim, tristeza, sino gago,
    pessoas dizendo entre soluços:
    “não aguento mais”.
    Moro num lugar chamado globo terrestre
    onde se chora mais
    que o volume das águas denominadas mar,
    para onde levam os rios outro tanto de lágrimas.
    Aqui se passa fome. Aqui se odeia.
    Aqui se é feliz, no meio de invenções miraculosas.
    Imagine que uma dita roda-gigante
    propicia passeios e vertigens entre
    luzes, música, namorados em êxtase.
    Como é bom! De um lado os rapazes.
    Do outro as moças, eu louca para casar
    e dormir com meu marido no quartinho
    de uma casa antiga com soalho de tábua.
    Não há como não pensar na morte,
    entre tantas delícias, querer ser eterno.
    Sou alegre e sou triste, meio a meio.
    Levas tudo a peito, diz a minha mãe,
    dá uma volta, distrai-te, vai ao cinema.
    A mãe não sabe, cinema é como diria o avô:
    “Cinema é gente passando.
    Viu uma vez, viu todas”.
    Com perdão da palavra, quero cair na vida.
    Quero ficar no parque,
    a voz do cantor açucarando a tarde...
    Assim escrevo: tarde.
    Não a palavra.
    A coisa."
    Adélia Prado

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  2. Carla, OBRIGADA por compartilhar Adelia!
    Salvou! (rs)
    Lindo, adorei.
    Ahhh, e como eu queria escrever como Adelia!!
    ;-) Bjs.

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