terça-feira, 3 de agosto de 2010

Meu avô - parte 2: a partida

A segunda inspiração pra escrever é a própria vida do meu avô, sua longevidade e sua morte, relativamente tranqüila. Uma transição diferente do comum para uma pessoa que, sem dúvida, teve muita “proteção” a vida inteira. Conversava ontem com meu primo-irmão Rodrigo e minha mãe sobre a força da fé. Talvez isso tenha feito com que ele fosse tão protegido: meu avô não sentia dor alguma. Teve câncer e só descobriu porque começou a ter sangramentos, que o levaram a algumas transfusões de sangue. Dor? Nem sinal. Operou, ficou bem da cirurgia, mas seu coração já não batia com força suficiente para fazer funcionar seus órgãos vitais, como rim e fígado. Foi pifando. Já internado, não sentiu esta falência. Não sofreu nem dor e nem a consciência da partida, devido à sedação pós cirúrgica. Foi rápido o suficiente para que não sofresse, não agonizasse. Foi lento o suficiente para que a família percebesse que era chegada a hora e se conformasse, torcendo para o melhor desfecho para ele. Parou. Meu avô era muito independente e se manteve lúcido até o final da vida. Não ia suportar ficar doente, dependente, na cama de hospital ou na casa de algum filho. Morava sozinho até uns 2 ou 3 anos atrás! Dá pra imaginar um senhor de 90 anos sozinho? Só aceitou ter um acompanhante em casa depois de muita, muita insistência dos filhos (devido à idade avançada dele, todos temiam que ele sofresse algo sozinho em casa, sem ter quem o socorresse). Mas só aceitou depois levar um ou dois sustinhos: de sentir falta de ar, alguma dificuldade para andar ou uma tontura pra sair da cama. Aí reconheceu a sua fragilidade e aceitou que alguém dormisse com ele em casa. Mas deixar de morar sozinho, jamais! (risos) Ah, e tinha que ser mulher: dormir com outro homem em casa, nem pensar! (+ risos)

Falei com ele pelo telefone pela última vez no dia 26/07, dia dos avós. Ele me ouviu ao telefone, agradeceu rindo a ligação, achando divertido eu ligar pelo “dia dos avós”. Agradeceu o carinho e perguntou pela minha filha. Lúcido, lúcido. Aos 93, quase 94 anos (faria em outubro). Tudo bem, eu tive que berrar um pouco ao telefone, mas o velho estava inteiraço pra quem estava com tanta estrada percorrida, um puta câncer (estômago, baço, pâncreas), entupimentos nas veias, coração grande e lento... Nem parecia. Estava já internado, era véspera da cirurgia pra retirada do câncer. Depois não tivemos mais oportunidade de nos falarmos. Mas foi uma despedida bacana entre nós.

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