quinta-feira, 18 de março de 2010

Dia da mulher



Revira, boceja, abre um olho. Escuridão, silêncio. Visão embaçada. Estica, espreguiça, abre os olhos. Levanta, anda, abre janelas. Luz, claridade. Olha a filha no berço. Toma seu café, dá uma olhada no jornal. Vai ao banheiro, liga o computador, escolhe a roupa. Olha a filha. Tempera carne. Baixa os emails. Põe roupa pra lavar. Olha a filha, acorda o marido, toma banho. Se arruma rápido. Acorda a filha. Amamenta. Troca um sorriso com a filha e ganha paz no coração. Se despede do marido. Arruma a filha, brincando. Leva a filha na escola. Volta, cuida do almoço. Lava louça. Pensa que deveria ter feito as unhas. Lê e-mails entre uma cebola e um alho. Trabalha. Fala ao telefone. Paga contas, faz compras, carrega peso. De salto alto. Tem reunião. Atrasou, precisa correr para buscar a filha. Brinca, dá banho, dá carinho. Dá comida. Janta. Põe a janta do marido. As horas passaram rápido. Está escuro, ainda não leu direito o jornal e nem metade do que pretendia. Sente dor, menstrua. Come doce. Não é comida. Toma banho rápido, põe a filha para dormir. Volta ao computador. Vê um filme ou bobagem qualquer na tevê, para relaxar. Estica as pernas. Passa um creme. Embaça a vista. Cansa. Deita. Não dorme. Dorme. Não dorme. Revira, boceja, abre um olho. Mais um dia da mulher.

SP, 08/03/2010.

Inspirada pelo dia da mulher e com a frase da música de Chico Buarque na cabeça (“todo dia ela faz tudo sempre igual”).

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