domingo, 28 de março de 2010

Eu tenho preço

Quer me comer?
Tem que pagar.
Não em espécie, moeda.
Mas precisa me fazer sonhar.
Precisa me valorizar
Me despertar
Me desejar
Me amar.
Quer me comer?
Tem que pagar.
O preço é baixo
É só me acompanhar
Me fazer fantasiar
Me encontrar
Me fazer gargalhar
Me elogiar.
Até pode presentear...
Sim, eu "aceito uma prenda,
qualquer coisa assim,
como uma pedra falsa,
um sonho de valsa
ou um corte de cetim"
Mas tem que pagar
Pra me amar.
Então, vai almoçar?

sexta-feira, 19 de março de 2010

Devolve a minha mãe!


Assistam no link ao final deste desabafo a cena que gerou um incômodo no meu peito por três longos dias... Se eu já me comovia com cenas que envolvem crianças antes de ser mãe, imaginem agora. Eu me revolto!!

A hipocrisia da nossa sociedade é muito grande e a justiça é muito pequena. Aquilo não é justiça! A criança estava evidentemente bem cuidada. Criança saudável, limpa, arrumadinha e DESESPERADA por estar sendo separada da mãe. Quer sinal mais evidente de que esta mãe não é uma monstra?

Pra mim, o único motivo no mundo justifica separação de mãe e filha é maus tratos. Se houvesse relato de que essa mãe batia ou maltratava esta criança, aí sim eu vejo motivo para se expedir um mandato, que, ainda assim, não deveria ser cumprido daquela FORMA. Nem mesmo neste caso uma criança poderia ser separada da mãe de maneira tão violenta! Pelo bem da saúde mental, psíquica deste bebê (vale lembrar que a menina tem 1 ano e 2 meses).

Se esta mãe usa a criança como apelo para pedir esmola, o que dizer das mães que exploram seus filhos, muitas vezes expondo a pressões psicológicas absurdas, em concursos de beleza, de miss, ou em competições para a criança trabalhar na TV? Estas também serão separadas das mães? Tudo neste país é uma questão de poder aquisitivo, por isso eu digo que somos hipócritas. Estas mães que atropelam a infância de seus filhos e filhas para ganhar dinheiro e status e realizar suas frustrações através delas, não têm a sua maternidade questionada e não são chamadas de exploradoras porque estão em outro “nível” da sociedade.

A outra, como é cigana, teve a filha arrancada de seus braços. Repito: se esta criança não sofre maus-tratos, está bem cuidada, limpa, sem fome e não tem a sua vida e saúde (física e mental, psicológica) colocada em risco, ela não pode ser separada da mãe. Maior trauma e danos psicológicos causaram a esta criança nesta ação medíocre da “justiça” brasileira.

A ação é tão mal planejada e absurda que ainda levam a criança no carro no banco da frente! É a própria justiça (ali representada pela polícia) burlando as leis e, neste momento, expondo a criança a riscos de vida!!!

Não acho que devemos julgar esta mulher como mãe, nem boa nem ruim, simplesmente porque não temos capacidade para isto e tampouco elementos concretos. O fato dela ser andarilha, cigana, pedinte, não a caracteriza como uma mãe melhor ou pior que nenhuma outra. Pra mim, a solução é simples e o choro de desespero daquela criança ao ser separada de sua mãe já diz muito: se a criança está bem tratada (isso inclui CARINHO E AMOR acima do fato de se ter um teto ou não; um “lugar seguro” para ela dormir – afinal, onde estamos SEGUROS neste país?! Nas nossas jaulas cheias de grades que chamamos de apartamentos?); enfim, se a criança tem o carinho de sua mãe e é bem cuidada, não há porque retirar a guarda desta mãe.

Pelo bem DA CRIANÇA que é uma inocente, não pode dizer qual seria a sua escolha e parece não estar sendo considerada nesta ação. O uso da força, neste caso, só reforça que o poder está ao lado só de quem tem grana neste país. Pudessem estes pais pagar um advogado e esta criança não passaria nenhum dia num abrigo...
Acho que se aquela criança pudesse falar, ela gritaria bem alto: “moço, devolve a minha mãe!”. Cheia de razão, coisa que falta aos adultos desta nossa hipócrita sociedade.

OBS: soube hoje pelo mesmo jornal (que confesso estar assistindo diariamente só para acompanhar o caso) que a criança foi devolvida à mãe. Passaram 4 dias separadas. Com um agravante, que a imagem mostrada no jornal hoje revelou: este bebê é lactante, ou seja, ainda amamenta em sua mãe! Isto torna esta separação ainda mais sofrida. Eu diria criminosa. E querem saber por que eu repeti tantas vezes a palavra hipócrita no meu texto? Adivinhem só quem foi o juiz que devolveu a filha à mãe? O mesmo que as separou! Certamente, assustado ou mobilizado pela repercussão pública que o caso tomou. CRETINO!!!

Eis o link para a matéria com a cena chocante:
http://g1.globo.com/jornalhoje/0,,MUL1533383-16022,00-CRIANCA+E+ARRANCADA+DA+MAE+EM+JUNDIAI.html

OBS 2: Ah, eu rezei. Rezei mesmo pra que esta criança fosse devolvida à sua mãe...

quinta-feira, 18 de março de 2010

Dia da mulher



Revira, boceja, abre um olho. Escuridão, silêncio. Visão embaçada. Estica, espreguiça, abre os olhos. Levanta, anda, abre janelas. Luz, claridade. Olha a filha no berço. Toma seu café, dá uma olhada no jornal. Vai ao banheiro, liga o computador, escolhe a roupa. Olha a filha. Tempera carne. Baixa os emails. Põe roupa pra lavar. Olha a filha, acorda o marido, toma banho. Se arruma rápido. Acorda a filha. Amamenta. Troca um sorriso com a filha e ganha paz no coração. Se despede do marido. Arruma a filha, brincando. Leva a filha na escola. Volta, cuida do almoço. Lava louça. Pensa que deveria ter feito as unhas. Lê e-mails entre uma cebola e um alho. Trabalha. Fala ao telefone. Paga contas, faz compras, carrega peso. De salto alto. Tem reunião. Atrasou, precisa correr para buscar a filha. Brinca, dá banho, dá carinho. Dá comida. Janta. Põe a janta do marido. As horas passaram rápido. Está escuro, ainda não leu direito o jornal e nem metade do que pretendia. Sente dor, menstrua. Come doce. Não é comida. Toma banho rápido, põe a filha para dormir. Volta ao computador. Vê um filme ou bobagem qualquer na tevê, para relaxar. Estica as pernas. Passa um creme. Embaça a vista. Cansa. Deita. Não dorme. Dorme. Não dorme. Revira, boceja, abre um olho. Mais um dia da mulher.

SP, 08/03/2010.

Inspirada pelo dia da mulher e com a frase da música de Chico Buarque na cabeça (“todo dia ela faz tudo sempre igual”).

domingo, 7 de março de 2010

Museus modernos?



Se alguém que me lê não sabe, eu sou museóloga. Sim, esta é a minha formação. Bizarra, pensam alguns, ainda. Fazer o quê?

Museus sempre fizeram parte da minha vida. Comemorei muitos aniversários, ainda criança, no Parque da Cidade do Rio de Janeiro, com obrigatórias - por MINHA insistência - visitas ao Museu da Cidade. E sempre frequentei estes espaços de memória, fosse em passeios e viagens com meus pais na infância ou depois.

E sempre me diverti e curti muito estes passeios.

Hoje, com as novas tecnologias e a arte propondo a interação do espectador, com as novas formas de comunicação que aceleraram o tempo da gente, os museus se sentem na obrigação de mudar e acompanhar a vida contemporânea. Concordo que seja necessário: museus não devem parar no tempo; "a vida não pára". E museus vivos devem caminhar junto, se modernizar sim. Eu mesma sou fã de exposições interativas em que arte ou história e tecnologia se integram e nos integram no conteúdo da mostra.

Mas é preciso um certo cuidado. Pirotecnias podem transformar exposições em cenário. E isso pode confundir o público. Afinal, ele saiu de um espetáculo de ficção ou ele saiu de um museu com informações reais de alguma vida, tempo ou espaço? Existe uma tendência ao exagero e, como em tudo na vida, é preciso equilíbrio. As intervenções de cenógrafos, curadores, arquitetos, iluminadores precisam ser focadas no conteúdo da mostra e servir a este fim e não ser uma atração à parte, um elemento a se destacar e desviar o foco do tema exposto.

Provocar a interação do espectador é fundamental para que ele, ao participar, absorva o tema com mais facilidade, de forma mais natural e tenha mais prazer em estar ali. Mas interação por interação é coisa para parque de diversões. O exagero transforma exposição em cenário, como eu disse acima. Conteúdo vira historinha e a impressão que fica é a de que você foi ao teatro, ao cinema 3D, ao parque e o que viu, leu, mexeu é apenas um conto, uma ficção.

Devagar com o andor.

OBS: foto tirada por mim (com meu iphone) de obra de Céleste Boursier-Mougenot apresentada no final de 2009 na Pinacoteca de SP em excelente mostra de arte.

terça-feira, 2 de março de 2010

Link

Ainda sobre o tema da mobilização, eis o link para artigo que comenta a nova instituição, a ALTERCOM, no ótimo e sempre lido Observatório da Imprensa:

http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=579JDB001

Bééééé! (ovelhas não mandam beijos, não é mesmo?)

Engajamento

PARA ENTENDER ESTE POST É NECESSÁRIO LER O ANTERIOR, SOBRE "MOBILIZAÇÕES POLÍTICAS"

Duas constatações entristecedoras me vieram à mente após ter participado das reuniões que presenciei.

O debate, a iniciativa, a pulsação, a energia, a vontade política de mudar o mundo está nas cabeças (e nas mãos) de pessoas acima dos 40 anos. São poucos, raros, os jovens que participam.

Os jovens não estão envolvidos e não há interesses deles em se envolverem? Estas instituições estão interessadas nos jovens, que são o nosso futuro próximo? Jovens só se mobilizam e envolvem com o que diz respeito a consumo? (BBBs, inclusos) Ou só se organizam em torcidas - violentas, diga-se de passagem - organizadas? "A juventude é uma banda numa propaganda de refrigerantes", como dizia uma banda de sucesso na minha época de adolescência?

Ok, é claro que no caso específico das duas instituições que se reuniram na semana passada, a média de idade era alta até porque a experiência profissional daquelas turmas levou-os a questionamentos e necessidades que os fizeram se mobilizar daquela forma. Então é natural que sejam pessoas experientes, com uma trajetória profissional mais longa, o que as torna um pouco mais velhas.

Mas ainda assim, é válido o meu questionamento: em torno de quê os jovens estão se engajando? Ou eu estou muito por fora do que a juventude vem aprontando, ou eles não estão pulsando com aquele desejo de mudar o mundo que costumava ser associado à pouca idade.

A outra triste constatação que fiz é que este tipo de engajamento político, ao menos na área cultural, inexiste no Rio de Janeiro. Não faço idéia de porquê, mas não é possível sentir uma mobilização organizada no setor. Estão todos apáticos, silenciosos, à espera - sentadinhos, bem acomodados - do resultado final das mudanças que estão sendo promovidas pelo MinC. Não existe uma conversa coletiva sobre o assunto.

Cadê os jovens? O que fazem?
Cadê os cariocas? Em quê estão ocupados?

Curioso e preocupante.

Mobilizações políticas

Semana passada vivi duas experiências muito interessantes de caráter político e, talvez, esteja participando - sem querer - de um momento histórico. Coisa que só poderei saber daqui a 15, 20 anos, ao poder constatar e analisar em que resultaram duas reuniões que tive a sorte de participar, ambas por acaso, por convites improvisados. (Seria mesmo o acaso me empurrando para estes cenários?)

Bom, concentremo-nos no que é de interesse comum:

1. reunião de empoderamento e ampliação da ANEC (Associação Nacional das Entidades Culturais Não Lucrativas), embora o objetivo da convocação para a reunião fosse específico e pontual, entendi que havia este objetivo maior na reunião. O tema do encontro era a apresentação e debate da nova proposta de lei de incentivo à cultura, com vistas a se fazer um movimento organizado para impedir sua aprovação.

2. reunião de criação e fundação da ALTERCOM (Associação Brasileira de Empresários e Empreendedores de Comunicação), cuja idéia me pareceru ter um caráter político mais amplo e democrático e onde a idéia é trabalhar a favor das mídias alternativas, entre outras coisas.

Não é possível saber a força e o poder que estas instituições poderão alcançar. Mas acho bem provável que ambas "vinguem". A tendência é que elas se firmem e afirmem interesses bem definidos.

Pode ser que uma delas, ou quem sabe até as duas, possam ajudar a mudar este país. Sem maniqueísmos nesta frase: para melhor ou para pior nunca será possível precisar e, tampouco, atuar para um só destes lados. Erros hão de acontecer no caminho e pode ser que algo que seja bom agora não o venha a ser daqui a alguns anos. Mas a intenção, é claro, é sempre a de trabalhar "para melhor". O inferno está cheio de boas intenções, já diz a expressão popular. O que quero dizer é que isso não garante nada: existem interesses específicos, bem definidos, pontuais, privados... Há muito em jogo.

Só que as duas instituições não me parecem terem vindo ao mundo para ficar no lugar comum. Tem cheiro de transformação no ar!

Que bom eu ter a sorte de testemunhar este momento.