domingo, 24 de julho de 2011

Página em branco

Passei meses em branco
Meses sem falar comigo mesma
Meses tentando não me ouvir
Passei meses em branco
Em branco, ninguém me ouviu
Em branco, fez-se o silêncio
Passei meses invisível
Passei meses indizíveis
Passei meses sem passar
Fiquei só a pensar
Inútil andar
Passei meses parada
Muda, calada
Branca madrugada
Silenciada
Passei meses amuada
Passei meses em branco
Sem sonho, sem conto
Passei...
em branco.

Um comentário:

  1. Enquanto defensor dos direitos afrodescendentes tenho a dizer que gozo de certo prazer na vinculação do branco a algum ruim.

    Nas minhas aulas sempre pontuo com tesão a expressão "deixou passar em branco o prazo", tem até uma expressão latina para isso"in albis" representando o branco com algum ruim (nesse caso a intempestividade).

    Sempre se diz "neguinho derrubou as torres gêmeas" eu cheguei a ouvir no RÁDIO nessa semana "neguinho na NORUEGA tascou tiro a esmo".

    Enfim, branco também pode ser ruim: No seu caso, no meu caso.

    Mas o copo sempre também está meio cheio (e esses budistas otimistas, felizes e certos também atrapalham a vida de quem quer escrever sobre sofrimento). E há no branco um vazio! Que é uma merda (que já seria alguma coisa) analisada sob o prisma budista do meio vazio, mas é presença de alguma coisa.

    Que estou aprendendo ser espaço!

    Importante é ter espaço, que se confunde com o branco, mas é algo mais solene para quem quer amadurecer e progredir.

    Entender que o branco dói é chover no molhado.

    Abrir espaço, deixar vago com temperança e preencher de calor no momento certo é voltar a viver.

    Beijos eu te amo.
    Rodrigo-

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