segunda-feira, 5 de abril de 2010

A corrupção começa em casa e por pouco, muito pouco.



Pais responsáveis que somos, fomos dar a vacina contra a gripe h1n1 na Bruna semana passada, aqui no Instituto Pasteur, na Av. Paulista. Nos deparamos com uma pequena fila, umas três crianças na nossa frente e uma jovem, de uns 20 anos, aproximadamente. Nem estranhei o fato dela estar na fila, embora não fosse a sua faixa etária a da vez na convocação. Ela poderia estar grávida... Mas foi a própria quem se apressou a contar sua história: ela estava ali guardando lugar para sua mãe, com a perna quebrada, sentada num banco próximo. Até aí, continuei sem desconfiar de nada, afinal, a mãe dela, embora não estivesse na faixa etária convocada a se vacinar naquele período, poderia ter alguma doença crônica, o que a tornaria imediatamente uma candidata ao medicamento em qualquer época. Mas como diz o meu pai, “peixe morre pela boca”: a menina continuou a falar... E disse - talvez contente de poder se gabar de sua “esperteza” - que havia tomado a vacina no dia anterior, alegando ter uma doença crônica, que deixou claro não ter. Não bastasse ela ter sido desonesta, deu a idéia para sua mãe, que estava ali então, seguindo o “belo exemplo” da filha. Ou seja, não só a mãe não a repreendeu, como ainda seguiu o mau exemplo.

“Que país é este?” diria Renato Russo acertadamente. Quem são estas pessoas que querem tirar vantagem de TUDO? Mesmo tendo um calendário de vacinação e não tardando a chegar a vez daquela jovem (esta semana começa a vacinação para pessoas da idade dela), ela tinha que burlar e tomar primeiro. E olha que a vacina é injetável e tem gente à bessa reclamando de dor... Mas existe o ditado que diz que “de graça, até injeção na testa”. Pelo visto, é fato.

Mas a conversa piorou, acreditem. A jovem estava também acompanhada de seu pai. Este já tinha tomado a vacina, mas disse ser diabético “de verdade”. Só que ao invés de recriminar as duas mocréias desonestas que tem em casa, ele as incentivou a mentir para se adiantarem ao calendário e mais: resolveram os dois, pai e filha, começar uma campanha para que eu e meu marido “aproveitássemos” que já estávamos ali para também mentirmos, dizendo que tínhamos alguma doença crônica e assim poderíamos tomar “logo” a vacina. Detalhe: em maio nossa faixa etária estará contemplada. Mas impressionava vê-los nos dando argumentos, nos mostrando como era “fácil” burlar. Ainda me disse a garota: “ninguém pergunta nada, elas nem conferem nada. É só você dizer que tem alguma coisa”.

Obviamente, melhor do que qualquer resposta que tenhamos dado, o nosso comportamento os fez calar, pois obviamente só demos a vacina na Bruna e fomos embora sem inventar nenhuma doença. (embora estivessem imediatamente à nossa frente na fila, no local estavam sendo atendidos dois por vez, por isso fomos atendidos ao mesmo tempo, o que garante que eles viram como nos portamos)

É bem provável que ainda tenham nos julgado como otários, os espertos. Eu seguirei como otária pela vida afora, com o maior orgulho, no que depender de ter atitudes como as daquela família. E são pequenos gestos como estes que dizem muito, dizem tudo, sobre o caráter de uma pessoa. E sobre o comportamento de um país. São pessoas que se corrompem por tão pouco que depois votam por um saco de cimento e no final ainda reclamam dos políticos. São aquelas pessoas que reclamam das enchentes, mas que jogam seu lixo na rua. Para estas pessoas, a responsabilidade de ser honesto, de ser correto, de fazer a sua parte, é do outro e não dela. E digo isso porque as pessoas em geral acham que se o delito é “pequeno”, se é por uma coisa aparentemente “menor”, ele não tem importância. O que não se dão conta, é de que não existe menor ou maior, pequeno ou grande quando se trata de honestidade. Por isso aquele pai não repreendeu a filha e a mãe também não se preocupou em ser exemplo de coisa nenhuma! Esquecem, no entanto, que “o hábito do cachimbo faz a boca torta” (hoje estou afeita a ditados!). São pequenos e constantes delitos que formam o mau caráter que é capaz de fazer um prédio com areia da praia mesmo sabendo que ele corre o risco de cair matando centenas de pessoas...

Agora pensa comigo: golpe para tomar vacina?!!! Me parece demais, não?!!! Caramba! Eu estou em outro planeta ou o que eu acabei de relatar também impressiona você? Pois falando séria e honestamente: a mim, horroriza que as pessoas tenham chegado a este ponto!

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