Varanda de casa, uma vista estranha ao meu olhar, bem tipicamente paulista. Árida. Avenidas, carros, prédios e cinza. Céu cinza. Sem horizonte, sem montanhas, rios, praias ou lagoas. Cinza claro.
Manhã sem filha. Caixas amontoadas, bagunça, poeira. Marido no trabalho e eu só. As caixas a me esperar e um mundo de novidades, idem. Uma nova vida a me esperar. E eu ali, no nono andar, olhando pro nada adiante. Me ocorreu subitamente uma vontade de fazer algo proibido. Não sei o quê e nem porquê. Fumar um cigarro, beber um whisky às 9h da manhã? Não, não era de um vício que eu tinha vontade... Dançar feito louca na varanda? Seria uma louca anônima, provavelmente nem seria vista por ninguém. E dançar nunca foi proibido... Nua talvez? Não... Não era de contravenção o meu desejo. O que eu sentia era uma vontade enorme de fazer não sei bem o quê. Era um sentimento invadindo forte. Não necessariamente de fazer algo. Muito menos "proibido". Aí então me ocorreu que eu podia entender o que sentia e porquê pensei primeiramente em uma proibição.
Era o sentimento de liberdade que me invadia absurdamente. Mesmo que aqueles minutos não durassem muito, seriam os mais livres, desde muito tempo. Uma enorme liberdade de um futuro em aberto à minha frente. Liberdade de não ter um telefone a tocar, alguém para cuidar ou alguém que de mim cuide.
Por isso a sensação de proibido, pois o oposto é imediatamente atrativo. O que é proibido é que atrai o livre.
O que eu queria mesmo era exatamente o que eu tinha, compreendi então.
Ficar ali, olhando o nada (que não precisava mesmo ser belo; não havia em mim desejo de experimentação estética) e me sentindo extremamente livre. Respirar. Não fazer nada. Nem me mexer. Talvez nem pensar.
Em algum momento, as caixas me chamariam de volta à realidade, à rotina, de uma vida que precisa andar. Mas a incerteza dos próximos passos me fazia livre e feliz naquele momento.
Tudo era possível.
O futuro está disponível.
(SP, 10/08/2009)
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