"Onde há frustração, a inveja impera".
Ouvi esta frase recentemente e concordei com ela.
Pessoas frustradas são obviamente mais propensas ao sentimento da inveja. Quem se sente realizado, de bem com a vida, não precisa nem prestar atenção no outro, ao que o outro faz, tem ou sente. Até presta, mas por boa vontade, por amizade, para participar e curtir ou para ser solidário.
Pessoas frustradas e mal resolvidas é que são o "mal secreto" do mundo. Incapazes de se resolver, projetam no outro suas frustrações, não conseguem engolir a felicidade alheia e não suportam ver que outras pessoas são capazes de realizar seus desejos enquanto elas não conquistam o desejado.
Infelizmente, faz parte da vida: eu conheço muitas pessoas invejosas. O mais triste pra mim, não é perceber que o são. Mais triste pra mim é notar o quanto são infelizes e, torno a repetir, frustradas. E na maioria das vezes, nem precisariam ser. Teriam plenas condições de sair da situação (ou situações) que as prendem num universo de infelicidade. Mas se acomodam, paralisam. Por any motivos, parecem desistir de buscar sua felicidade, de tentar realizar e conquistar coisas - sejam de ordem material ou não. Isto é o que mais me penaliza. É observar que poderiam ser felizes, talvez tivessem que fazer um pequeno esforço - sim, e o que seria da vida sem esforço? - mas ao invés disso, ficam ali, imobilizadas. Acabam, naturalmente, se tornando venenosas criaturas que invejam o outro. Tantas vezes, por tão pouco.
Ainda tem a história da grama do vizinho, né? Sempre se acha que a do vizinho é mais verde. Pois é, o marido da vizinha é sempre mais bacana, bonito ou atencioso. O filho da vizinha é mais esperto ou mais obediente. O carro da vizinha, mesmo que seja da mesma marca, é sempre mais bonito ou eficiente. E por aí vai...
Como se ajuda uma pessoa que, de tão frustrada, chegou ao ponto de ser invejosa? Como se diz pra ela: ei, minha grama não é mais verde que a sua, eu apenas cuidei melhor dela. Ou até mesmo: apenas você pensa que é melhor, mas ela é igualzinha. Como?
Eu gostaria muito de ajudar estas pessoas. Até porque, uma coisa a gente tem que admitir, elas atrapalham. De fato, conseguem com seus sentimentos e energia carregados, afetar vidas felizes. Devem sentir um certo gosto de vitória, quando alguém que invejam tem uma derrota em alguma coisa ou momento da vida. (Mas que tolas: e quem é que não tem seus momentos de derrota, se a vida é feita de altos e baixos para todo mundo?!!)
O pior mesmo é identificar estas pessoas para poder eliminá-las ou, se não for possível, manter ao menos uma distância segura delas, em nossas vidas. Uma dica eu posso dar: desconfie sempre das pessoas muito cordiais, que nunca se alteram, nunca levantam a voz, não brigam com ninguém, são sempre tão gentis e nunca se aborrecem com nada nem ninguém. Isto é humanamente impossível. Ou a pessoa é um psicopata, ou ela é falsa, está forjando uma imagem cordata, e isto é comportamento típico de frustrado. Desconfie também daquelas que sempre te elogiam demais, elogiam tudo que você faz, tem ou usa, simulando um interesse mas, na verdade, nunca estão realmente interessadas pelo que você faz, sente, usa ou produz. Este é um tipo peçonhento de invejoso. É o invejoso que queria ser tudo o que você é. E o extremo também costuma ser sinal de alerta: aquele que quer muito ser seu amigo, te agradar, estar bem com você. É o invejoso que te suga, outro espécime asqueroso. E tem ainda o invejoso que corre atrás: é o tipo que ao invés de gastar sua energia em realizações próprias, fica o tempo todo te imitando, seguindo seus passos, fazendo as mesmas coisas que você. Sabe aquela pessoa que compra tudo que você compra igualzinho? Ou faz tudo o que você faz, logo em seguida. Alerta máximo: invejoso descontrolado, que não consegue esconder e te copia os passos na vida.
Mas a boa notícia é que o mundo sempre dá voltas e nada melhor do que o tempo para indicar onde se encontram as verdades, mostrar quem é quem. E como a vida é feita de bons e maus momentos, os invejosos podem até atrapalhar um pouco, mas quem é feliz sempre dá a volta por cima e consegue manter sua vida numa soma maior de bons momentos do que dos maus, que fazem parte, mas podem ser bem poucos. E isso depende só de cada um: de si mesmo. É você quem decide colecionar mais momentos bons do que ruins. É você quem decide se quer ser feliz. Ninguém é feliz o tempo todo, mas você tem o poder sobre o que fazer com sua vida. Faça o melhor. Pra você e pro mundo.
OBS: Inveja - Mal Secreto é título de bom livro escrito por Zuenir Ventura para a coleção dos Plenos Pecados, da editora Objetiva. Antigo mas atual. Vale conferir.
Minha querida Dani,
ResponderExcluirEu tenho tanto pra te falar, mas com palavras não sei dizer...
Acho o sentimento de frustração dos mais humanos que existe - e necessário. Não seria possível superar nossos obstálculos ao longo da vida se, vez ou outra, não o sentíssemos. É lindo errar, sentir que errou e reconstruir a partir do erro. Isto nada tem de íntimo com a inveja, que é desejar algo do outro, onde não há uma criação de si, mas apenas uma apropriação leviana do alheio. Nestes tempos maquinários, onde somos levados à cumprir uma produtividade quase desumana, defendo que se erga uma bandeira para a falha, para o erro - e a tristeza que ocorre em decorrência deles para que se possa transmutar.
RECONHECE A QUEDA e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá volta por cima!
Beijokas!
Carlota,
ResponderExcluirEu entendo errar como algo diferente do que eu chamei de frustração. Errar é humano, necessário e faz parte do processo de crescimento, amadurecimento, aprendizagem. Precisamos errar muito para melhorar, para nos tornarmos melhores. E aprender a levantar do tombo (sacudir a poeira e dar a volta por cima) é das coisas mais prazerosas da vida. Acho que concordamos nisso.
O que eu classifiquei de “pessoas frustradas” é bastante diferente disso. Talvez eu tenha me expressado mal ou utilizado a palavra errada. Eu é que não sei dizer bem com palavras, como vc... (ops! Uma invejinha boa? Isso existe? Kkkkkk) Mas me esforço justamente porque gosto do exercício e aprendo muito com os erros cometidos ao escrever.
Mas retomando a minha explicação, eu classifiquei como “pessoas frustradas” aquelas que possuem desejos (existiria alguém que não possuísse um?) mas não os realizam por falta de iniciativa, por medo, por acomodação ou até mesmo por preguiça. E vão acumulando frustrações... Não estou me referindo a uma tristeza momentânea por algo não conquistado. Sim, isso existe, mas quem não tem uma postura frustrada ante a vida, supera as pequenas frustrações do dia a dia, que fazem parte sim. Neste nosso ritmo de vida, citado por você, acho que a gente se frustra até com mais freqüência, porque tem maiores expectativas, mais pressão. Mas vamos ver se consigo me explicar: eu já tive frustrações na vida, mas não sou uma pessoa frustrada. Entende o que quero dizer? Acho que as pessoas frustradas são aquelas que desistiram de conquistar, de mudar seu status.
A psicanálise tem um monte de definições cascudas para a palavra, eu não manjo muito disso. Porém nós que somos mães, sabemos o quanto é importante que os filhos experimentem frustrações, ainda crianças, até para aprenderem a lidar com elas sozinhos mais tarde. Como dito, isso é parte essencial do processo de aprendizagem. Enfim, me parece que não conquistar algo porque errou (ou por outras razões) e se frustrar por isso é uma coisa, é momentâneo, se supera. Mas pessoas que têm uma postura frustrada diante da vida, que não cometem erros porque nem tentam, é dessas pessoas que eu estou falando. Estas pessoas são propensas a se tornarem invejosas crônicas, na minha opinião. E são essas pessoas que devemos ajudar (só não sei como) ao mesmo tempo em que devemos ter cuidado com elas.
Beijocas, querida! E obrigada por participar do bloguinho!
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirEXPLICAÇÃO AOS LEITORES
ResponderExcluirPor algum motivo qualquer, alheio à minha vontade (certamente, problemas tecnológicos), os comentários chegaram a mim por e-mail mas não apareceram aqui no blog (levaram alguns dias para tal). Com isso, acabei debatendo o tema com a amiga Carla Vergara por e-mail, daí eu mesma estar postando aqui a mensagem que ela me enviou por e-mail, respondendo o meu comentário anterior. Segue:
Dani, que linda esta sua resposta!
Taí o tipo de conversa que penso valer a pena neste momento do mundo.
Tem um texto da Martha Medeiros que eu gosto muito. Chama-se: A Tristeza Permitida (anexo pra vc). Eu nem gosto tanto dela, mas deste texto gosto demais. O motivo: ela restaga esta permissão de sentir algo muito humano mas que, na sociedade contemporânea ficou feio. A gente tem que produzir, estar bela, feliz, bem humorada etc etc... e precisa esconder coisas que essencialmente fazem parte na nossa essencia enquanto espécie. Este é um momento onde tb as pessoas se tornaram cada vez mais classificáveis e coisificadas. Vc que trabalha com arte deve ver isso bem de perto. Muitas coisas, muitas coisas - como diria Arnaldo Antunes... E isto tira a flexibilidade que a alma pode ter de se refazer, metamorfosear, transmutar - isso que não só uma terapia pode fazer com a gente, mas a arte, a vida cotidiana, um encontro com um amigo, nossa relação com os nossos filhos. Assim, vários são os elementos que caracterizam uma identidade, uma personalidade etc. É uma pena quando alguem resolve escolher ressaltar um elemento paralisante para ser sua lente para o mundo: a inveja por exemplo.... mas nós, que somos pessoas transformadoras, mães profundas, sabemos que existe sempre uma possibilidade de mudar.
Os Estoicos chamam de Boas Misturas os encontros onde a potência de cada uma das partes se realiza. São as paixões alegres. O contrário, quando um destrói a potência do outro, são as paixões tristes - dominados por sentimentos de medo, submissão etc.... Mas são sempre encontros.
Mas é isso: continue na escrita - eu gosto mto de ler o que vc escreve! Uma pessoa que não se posiciona "à esta altura do campeonato" não dá pra aguentar - rsrs! E vc faz isso com mta delicadeza e dedicação.
Beijokas, Carla
Querida, adorei! Obrigada.
ResponderExcluirEngraçado você não gostar da Martha... Me surpreendeu. Eu gosto muito dela! Das coisas que escreve e da forma como escreve.
Enfim, amei suas colocações e concordo muito com elas.
Beijos!
Dani